terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Livro de Fundo


"(...) Mas haja ou não haja razão, neste final de Maio de 57, o barómetro acusa bom tempo e, climaticamente, acreditamos em António Quadros, acreditamos em todos os que falam na fé, na certeza, na esperança de redenção social do homem. (...)"

Texto de Afonso Cautela publicado na «Inventário», página do jornal «A Planície» que sucedeu a «Ângulo das Letras», 15-6-1957.

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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Da Língua Portuguesa

"O descobridor da psicanálise era um racionalista, que teve sempre o cuidado de substituir os termos por que tradicionalmente se designam os elementos e as forças da vida psíquica por palavras aceites no domínio científico. Se soubermos, conforme ele nos ensina sobretudo na sua «Interpretação dos Sonhos», desdobrar o que foi dobrado, extrairemos talvez dos seus livros muito mais do que uma explicação sexualista do homem, segundo o monismo antropológico que vulgarmente lhe é atribuído. Em termos aristotélicos, dir-se-ia que se a «libido» constitui a causa substancial, o conhecimento é a finalidade de que a palavra é o princípio formativo. Com efeito, o elemento filológico é fundamental em Freud. A palavra actua entre o inconsciente e o consciente, de tal modo que é pela atenção aos seus movimentos que se explicam os actos falhados, as nevroses, os sonhos, - enfim, toda a vida psíquica do homem e da mulher.
Pondere-se a importância de tudo isto. Em primeiro lugar, as línguas não serão, como se tem querido, instrumentos quase físicos, ou, pelo menos, tão relacionadas com certos mecanismos fisiológicos que se possam estudar, na sua natureza e evolução, dentro dos quadros fonéticos da filologia alemã; não serão, em segundo lugar, sistemas de expressão de ideias e de emoções, conforme querem os gramáticos e os estilistas de formação germânica; e estarão, por conseguinte, muito mais desligadas das funções cerebrais do que pensam quantos se agarram ainda a uma fisiologia ultrapassada. (...)
Com efeito, e conforme vimos, a acção de uma língua não se exerce apenas à superfície. É uma relação orgânica. E cabe perguntar, neste momento se um homem português sonha com um homem estrangeiro. A pergunta, por insólita, parece idiota. Nós, pelo contrário, achamo-la comparável àquela que o tribunal exlesiástico que julgou Joana d'Arc fez à Santa e que consistia em saber em que língua Deus se lhe tinha dirigido, quando ouviu as vozes interiores."

António Telmo, "Da Língua Portuguesa", Espiral nº4/5, p.58

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

IFLB

Da Filosofia Portuguesa


"Em sua radicalidade, o problema da filosofia portuguesa é o problema da filosofia. Universal no seu anseio e destino, como busca plural e convergente da verdade, sempre e a cada momento recomeçada e posta em causa, interrogação cuja resposta não esgota nem capta de uma vez por todas o perene sentido da existente e suas razões, a filosofia, enquanto tal, isto é, enquanto pensar no homem e do homem, participa da sua própria condição de ser situado no mundo, numa pátria, numa língua, numa cultura, num culto. Individual e nacional no seu ponto de partida e em sua raiz, múltiplo na aventurosa variedade do caminhos especulativos que se lhe abrem, o filosofar é também, e simultaneamente, universal no sentido último da sua indagação e finalidade. Deste modo, contrapor abusivamente ao carácter nacional da filosofia a sua universalidade seria o mesmo que negar à ave o voar só por ter pernas, na feliz imagem de um pensador contemporâneo."

António Braz Teixeira
"Da Filosofia Portuguesa", em Espiral nº 4/5, p.42

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Viagem desconhecida

"Maior é o desejo sem limites que inspira aos frágeis humanos, frustrados desde o príncipio."

António Quadros, do poema A Outra Face, in «Viagem Desconhecida», p. 66.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Carta de António Quadros a Eduardo Lourenço

Excerto da correspondência publicada na Colóquio/Letras, n.º 171, Maio 2009, pp. 262-268.

Lisboa 24 de Setembro [de 1968]

"É possível que as notícias cheguem aí primeiro do que esta carta. Por enquanto (dia 26), a situação é esta: Salazar em coma; Presidente da República multiplicando políticas e démarches; boatos vários a este respeito, o mais insistente dos quais é o de que o candidato nº 1 é o Marcello Caetano, que se propõe uma certa liberalização (…) E, curiosamente, ambiente de calma. Mau grado o fogo de vista da imprensa e da rádio, a verdade é que o povo parece anestesiado. (…) Da Oposição, nada: nem um manifesto, nem um cartaz, nem uma folha clandestina. (…) Perdemos o sentido da Política e da História. Durante 40 anos fomos conduzidos pela mão por um Pai que sempre nos dominou com facilidade. Tudo o que sabemos fazer é interrogar os cinco minutos seguintes: morrerá, não morrerá? Quem será o Delfim? E é tudo. Os próprios críticos perderam a experiência da crítica. Os democratas não sabem que é e como se vive em democracia. Tenho a impressão de que todos os protestos eram atitudes, não actos e de que agora, os inimigos do velho Rei não sabem o que fazer. (...)"