57

1957-1962

Via hemeroteca digital
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Em 1957, ano do centenário do nascimento de Sampaio Bruno, Álvaro Ribeiro publica A Razão Animada e António Quadros funda, com Afonso Botelho e Orlando Vitorino, o «Movimento de Cultura Portuguesa» e o respectivo jornal «57».


Do jornal 57 saíram 11 números: três em 1957, sendo um deles duplo, (n.º 1,Maio; 2, Agosto; 3-4, Dezembro), um em 1958 (5, Setembro), dois em 1959 (6, Março; 7, Novembro), três em 1960 (8, Junho; 9, Setembro; 10, Dezembro), e por fim um único número em 1962 (11, Junho). A direcção foi partilhada com Fernando Morgado e Orlando Vitorino, embora este tenha abandonado a função a partir do quinto número do jornal, em Setembro de 1958. Os colaboradores do «57», para além dos já mencionados, foram: António Telmo (irmão de Orlando Vitorino), António Braz Teixeira, Armando Luís  António de Castro, António Areal, Alexandre Coelho, Ana Hatherly, Avelino Abrantes, Carlos Eugénio, José Antunes Ferreira, Fernando Morgado, Alberto Fonseca Araújo, Miguel Mandeira, Rui Bandeira, António Botelho, Ernesto Palma (pseud. de Orlando Vitorino), Rui Carvalho dos Santos, Francisco Sottomayor, Fernando Sylvan, Jorge Preto, Luís Zuzarte, entre outros.

A partir do n.º 2, de Agosto de 1957, Afonso Cautela e Azinhal Abelho juntam-se ao corpo editorial que vê sair, na mesma altura, Luís Zuzarte. O «57» contou ainda com as importantes participações de Álvaro Ribeiro, José Marinho, Natércia Freire, Agostinho da Silva, Sant’Anna Dionísio, Augustina Bessa Luís, entre muitos outros.

As raízes do movimento são a «Renascença Portuguesa», o «Orpheu», a revista «Panorama» e, por fim,  a «Renovação Democrática», com Domingos Monteiro, Álvaro Ribeiro e Pedro Veiga à cabeça.

A 22 de Janeiro de 1962, é aprovado por despacho ministerial, o Colégio Português das Artes, que teria como objectivo, enquanto órgão do Movimento da Cultura Portuguesa, promover a valorização das artes e da cultura portuguesas. O C.P.A pretendia ainda iniciar ciclos de iniciação filosófica, estética e cultural e criar o Museu de Arte Moderna de Lisboa.

Anos mais tarde, em 1993, numa entrevista ao Diário de Notícias, António Quadros referiu que o grupo procurou no 57 "(...) levar os problemas para um nível de pensamento exigente e não puramente politico. Pensávamos que era necessário que Portugal aprendesse a pensar por si próprio e não através de modas ou compêndios."

António Quadros Ferro
(21 de Julho de 2011)


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“Não se aperceberam ainda os espíritos distraídos, anacrónicos ou utópicos, de que a cultura portuguesa está a atravessar por uma transformação tão profunda que alguns dos seus mais brilhantes pilares ameaçam ruir diante da impaciência das novas gerações." 

Manifesto de 57, in 57, I (1957), p.2
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"Aqui começa um novo ciclo da cultura portuguesa. Nós somos solidários desses milhares de jovens indiferentes à cultura, que enchem os estádios, os cinemas e os cafés. [...] Divergimos de todos e combatemos todos quantos, quaisquer que sejam os seus credos políticos ou religiosos, pretendem [sic] chegar aos mesmos fins através de meios que, não se adequando à especificidade do espírito, da alma e do corpo da pátria portuguesa, mais não poderão provocar senão [sic] a dor, o mal estar, a angústia, a divisão e, principalmente, a estagnação, pela luta aniquilante de forças contrárias que se anulam mutuamente, conforme se tem verificado tragicamente na Europa dos últimos 50 anos."
Ibidem
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"O acto de conhecimento surge no encontro da razão com a realidade"
Ibidem
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"Não há Constituição, não há Partido, não há Governo, não há Exércitos capazes de resistir por mais do que um limitado período de tempo, às forças de divisão provocadas pela adopção de doutrinas estrangeiras, em luta contra ideias, tradições e leis de fundamento nacional."
António Quadros 
“Sessenta anos de autonomia cultural e independência politica”
57 – Movimento de Cultura Portuguesa, 11, Lisboa: pp. 2; 11; 15.

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"Como é possível conciliar o sentido universal da filosofia com o conceito de uma filosofia radicada? O problema equivale a este: se a ave tem asas, como se compreende que tenha pernas?"
José Marinho
"Filosofia Portuguesa e  Universalidade da Filosofia"
57 – Movimento de Cultura Portuguesa, 3-4, Lisboa: p. 28.
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"No 57 nota-se que o tema dominante é, de facto, a cultura, mas não tomada ainda como objecto de análise específico. Nota-se, sim, é a preocupação de se consolidar uma transformação cultural, e de se impor uma tendência do filosofar português contemporâneo."
Manuel Gama
Movimento 57 na cultura portuguesa
 Biblioteca Breve / Volume 116, 1991. 
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"O 57 tem um vector polemizante: quer suscitar o debate das ideias, e este debate provocará algum radicalismo, mas sem ele o movimento teria ficado fechado em si mesmo. (...) O escopo do 57 não era o radicalismo: este era um meio para induzir as consciências à reflexão do que mais importava, o que ficou patente no colóquio sobre o tema «O que é o Ideal Português?» (1962) cujo patrono foi Álvaro Ribeiro, e que de algum modo encerra a actividade do 57 como movimento colectivo. (...)"


Pinharanda Gomes
Dicionário de Filosofia Portuguesa, 
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1987.

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"O 57 foi o mais importante órgão do movimento de renovação cultural que divulgou os temas e os teoremas da Filosofia Portuguesa, movimento centrado no convívio intelectual de Álvaro Ribeiro e José Marinho, mas sobretudo no magistério exemplar do filósofo de A Razão Animada." 
Jorge Preto
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"Os mentores do 57, ao visarem as estruturas políticas centralistas próprias do nativismo – cujo corolário vem a ser o burocratismo das instituições, da cultura e do ensino –, pretendem sobretudo atingir a situação política vigente à época – o regime autoritário do Estado Novo, a ditadura salazarista. Cientes do perigo, fazem-no com prudência, de modo dissimulado."
Pedro Martins
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"Não podemos ignorar o contributo que o 57 deu para o conhecimento e divulgação de pensadores importantes, através das traduções das suas obras: Hegel, Nietzsche, Freud, Stuart Mill, Bacon, Camus, Voltaire, Balzac, Walter Scott, são alguns exemplos; o papel que teve na publicação de originais de autores portugueses, como Afonso Botelho, Natércia Freire ou Augustina Bessa Luís; bem como na promoção da literatura e da arte portuguesas, a partir das muitas recensões e críticas publicadas nas páginas do 57. " 

Álvaro Costa de Matos

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