terça-feira, 26 de julho de 2011

«Saciologia Goiana» de Gilberto Mendonça Teles

"Caro Gilberto, estás demasiadamente longe para me explicares, bebendo comigo um chope carioca ou um cafezinho português, o que é isso de saciologia, que à primeira vista parece palavra gralhada pela revisão. Será sociologia goiana, sociologia de Goiás, esse grande território e Estado mal conhecido dos próprios brasileiros? Abro o livro: é poesia, não sociologia. Recorro então a um dicionário etimológico e descubro, entre sachar e saciar, a palavra saci, substantivo masculino de origem tupi: entidade fantástica do folclore brasileiro, que assume a forma de um negrinho de uma perna só, que usa cachimbo e um pequeno barrete vermelho na cabeça, e que persegue os viajantes nos caminhos.

Desenho de
Monteiro Lobato
Abro o livro e é Goiás, da terra, da geografia, do folclore, do mito, das tradições, da literatura popular, da psicologia e até da cozinha típica, que Gilberto de Mendonça Teles, goiano exilado no Rio de Janeiro, na Universidade e na cultura erudita, evoca pela força da saudade, reconstitui ou procura preservar na sua verdade antiga e profunda, através da magia poética. [...]

Quase uma teoria do saudosismo poético, essa teoria luso-galaico-brasileira, que supera em complexidade e em compreensão de realidade a filosofia da memória do tempo, segundo um Bergson ou um Proust!

É na verdade a saudade, a saudade mitogenizante que, ao longo do livro, aqui e ali, e outra vez, traz de volta o pequeno saci maravilhoso e pícaro, símbolo desse outro lado do espelho da terra goiana visível, que é com o de Alice, o do “real absoluto”. [...]

Saciologia Goiana desenvolve-se aliás, em estrutura coerente, fazendo o levantamento saudosista e mítico de Goiás, cuja literatura e folclore o poeta usa e assume, assim fazendo convergir o fundo e a forma para uma finalidade comum. Sucessivamente, Gilberto nos apresenta efectivamente poemas intitulados "Goiás", "Geografia do Mito", "Descrição", "Fronteiras", "Ser tão Camões"(religando a paisagem e a inspiração espontânea da poesia goiana à matriz luso-camoneana), e ainda "Caminhos", "Localidades", "Hidrografia", "O Rio", "Etnologia", "O Mato Grosso Goiano", "História", "Conto de Fada", "Manifesto da Cozinha Goiana", etc., etc, num intento global de reconstituição poética de uma região, de uma “alma colectiva”, de uma geografia natural e humana, que temos de considerar não só raro, como também realizado nos termos a si próprios propostos pelo autor.
Professor, historiador da literatura e crítico, autor de obras neste campo tão notáveis com A Poesia em Goiás, Drummond – a Estilística da Repetição. Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro, Camões e a Poesia Brasileira ou A Retórica do Silêncio, entre outros, Gilberto Mendonça Teles, também o poeta do Pássaro de Pedra, Sintaxe Invisivel, A Raiz da Fala e Arte de Armar, conseguiu de facto em Saciologia Goiana, a proeza de reverter, escritor erudito que é, a simplicidade de uma inspiração popular. Proeza porque só poucos (com entre nós um Vitorino Nemésio), podendo despojar-se do vestuário intelectualista, a têm ao seu alcance!"

António Quadros
"Dois notáveis brasileiros: Lêdo Ivo e Mendonça  Teles"
em Tempo - Ideias  & Livros (3 de Fevereiro de 1983)

Tradução de António Quadros

"(...) o ideal literário de Duhamel é contar o homem médio, o pequeno burguês parisiense que vive em quatro compartimentos com um ordenado demasiado estreito para extravagâncias, o pequeno burguês e todo o complicado processo que forma a sua não menos complicada personalidade - os seus actos, os seus sentimentos, os seus ideais, as suas convenções. (...) Para interessar o leitor, era preciso que as personagens de Duhamel, além de homens médios tipos, fosse originais, susceptíveis de prender fortemente a atenção. E pronto. Um caso original, raro, um desfecho imprevisível, carácter diferentes, e eis o leitor preso, algumas vezes mesmo, prodigiosamente interessado.(...) A filosofia de Duhamel é amarga, despeitada, e o Diário de Salavin é um exemplo que ilustra perfeitamente esta afirmação. O homem que quer sair de si próprio e não o consegue, que continua sempre e desesperadamente homem. (...) Diário de Salavin é algo mais do que um retrato do homem médio, algo mais do que nós próprios, algo menos do que nós, mas tristemente, profundamente, nós."

António Quadros
Do prefácio a Diário de Salavin, de Georges Duhamel
Livraria Tavares Martins, Colecção «Contemporâneos» (dir. António Ferro)
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"Hoje, 7 de Janeiro, aniversário do meu nascimento, tomo a resolução de transformar a minha vida.
Chamo-me Luís Salavin. Tenho quarenta anos. Sou casado. Minha mulher é a mais doce e a mais afectuosa das mulheres. Não, sinceramente, não tenho nada a censurar-lhe, se exceptuar certas pequenas coisas que seria descabido citar neste momento solene.
Tenho a inapreciável felicidade de ainda possuir mãe. É muito velha. É uma pessoa admirável, uma perfeição. A sorte conservou-ma; fez-me este favor, a mim, tão indigno. Escrevo esta palavra em pleno conhecimento de causa e com a esperança de a ter aplicado pela última vez." 
(p.17)

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Georges Duhamel
Fotografia de
Henri Cartier Bresson
(Junho de 1944)
Georges Duhamel nasceu em Paris no dia 20 de Junho de 1884 e morreu em  Valmondois no dia 13 de Abril de 1966. Em 1912 foi nomeado editor da revista literária Mercure de France, cargo que manteve até 1938, até ser  substituído depois de ter sido considerado "anti-guerra". Só regressou à revista como editor em 1945. Trabalhou como cirurgião do exercito francês durante a 1ª Guerra Mundial.  Em 1918 venceu o prémio Goncourt, pela obra Civilização, que relata algumas das experiência vividas durante a guerra de 1914/18. Em 1935 foi eleito membro da Academia Francesa, eleição que renunciou em 1946. Escreveu poesia, teatro, crítica, romance e foi presidente da Alliance Française. Duhamel recebeu diversas condecorações, nomeadamente a cruz da Ordem Nacional da Legião de Honra e screveu entre outras obras, O Natal de Rechoussat, Diário de Salavin, Caminho Escabroso, Fábulas do meu jardim, Clamor da Solidão, Confissão da meia-noite, Um mártir, etc.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

«Mónica ou um diário Algarvio», texto de António Quadros

"Onde está o sol que não o encontro? O meu coração sofre com a fealdade crescente sobre as cidades ruidosas. Cai sobre mim uma imensa melancolia. Este não é o mundo que eu sonhava. (...) Desejaria, desejaria, talvez o impossível. A pureza de uma vida tranquila. O silêncio das grandes praias solitárias. Ar, ar para sorver com volúpia, e o sol, e o céu azul e a beleza esquecida das pequenas aldeias brancas onde as pessoas são autênticas e simples. (…) Sinto sobre a pele a carícia esquecida do sol, do sol verdadeiro. Há um cheiro indefinível e bom que me encanta. Soube depois que era o cheiro característico do Algarve. O cheiro de amêndoa e de alfarroba, polvilhado pela maresia.(...) Trago comigo, com bagagem opressiva, a minha melancolia. A minha saudade de mim própria. Este não é o mundo que eu sonhava."
António Quadros


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Texto e imagens retirados do documentário "Mónica ou um Diário Algarvio", (Hotel Penina, 1972), realizado por José Fonseca e Costa, com ideia e argumento de António Quadros.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rita Ferro sobre o pai, António Quadros

"Faria anos neste dia. Foi bom pai, bom avô e amado pela mulher durante 50 anos. No Hospital, na véspera de morrer, levei-lhe um artigo do DN que o consagrava enquanto pensador. «O rosto visível da Filosofia Portuguesa», diziam. «Pai, pai, finalmente a consagração!» Fez-me um gesto alto e cansado, como quem trava: «Não quero saber, ainda estou a tempo» «A tempo de quê, Pai?» «De saber que nada disso interessa, filha»."

Rita Ferro
14 de Julho de 2011

Sampaio Bruno é “porventura o maior filósofo português, pelo menos nos tempos modernos”

"Porto, 14 jul 2011 (Ecclesia) – Sampaio Bruno será o mais importante pensador português contemporâneo e a sua obra devia ser estudada pelos candidatos ao sacerdócio, defende Afonso Rocha, autor de uma obra sobre o filósofo que viveu entre 1857 e 1915.

O estudo ‘Natureza, Razão e Mistério, Para uma leitura comparada de Sampaio (Bruno)’, editado em 2009 pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, vai ser hoje distinguido em Lisboa com a primeira edição do prémio António Quadros, atribuído pela fundação homónima.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o professor de filosofia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica afirma que José Pereira de Sampaio Bruno é “porventura o maior filósofo português, pelo menos nos tempos modernos”.

O volume ajuda a compreender a “tradição filosófica que está antes de Sampaio Bruno e com a qual ele dialogou”, ao mesmo tempo que destaca a receção das ideias do pensador portuense na cultura portuguesa, de que é uma “referência fundamental”.

As cerca de 650 páginas contrariam a tese de que o defensor do republicanismo está na base da fundação da chamada ‘filosofia portuguesa’: “Sampaio Bruno é antes de mais um pensador e filósofo de matriz universal”, assinala Afonso Rocha.

O pensador adicionou o último apelido ao seu nome para evocar o filósofo e frade dominicano italiano Giordano Bruno (1548-1600), que morreu na fogueira depois de a Inquisição o ter declarado culpado de heresia, entre outras acusações.

A relação de Sampaio Bruno com o catolicismo começou na educação cristã recebida na primeira infância, “mas muito cedo, sobretudo por influência dos livros do pai, enveredou por um caminho diferente”, aponta o autor.

“Entre os 20 e 30 anos, depois de uma juventude com demonstrações muito anticlericais, Sampaio Bruno virá a superar o catolicismo, e mesmo o cristianismo”, nomeadamente na sua abordagem ao problema do mal.

Para Bruno, “o mal não é meramente antropológico e moral, mas tem a ver com o divino”, tornando-se “uma verdade segundo a razão mas que está para além dela”, refere o autor, acrescentando que as raízes religiosas do jornalista e político fundam-se no seu conhecimento da Cabala e gnose judaicas.

Afonso Rocha, nascido em 1941, considera que a Faculdade de Teologia devia preocupar-se com o estudo do pensamento de Sampaio Bruno e de outros pensadores que influenciam a cultura portuguesa atual.

“Se a teologia não tem em conta estas conceções, estará a formar futuros padres de uma maneira desenraizada e meramente teórica”, fazendo que fiquem com um “certo handicap [desvantagem] numa evangelização que tenha em conta o real homem português de hoje”, afirma.

O docente sublinha que “a grande razão de ser de uma universidade católica está na Teologia e Filosofia”, que deviam ser “a grande aposta da Igreja Católica” em Portugal, colocando em segundo plano as restantes áreas do saber.

“Na prática, o que se tem privilegiado são as outras ciências”, diz Afonso Rocha, para quem “a Faculdade de Teologia não está devidamente dotada em termos de docentes”.

O prémio não pecuniário que vai ser entregue às 17h00, no Palácio da Independência, destacará anualmente uma temática diferente, indicou Mafalda Ferro, presidente da Fundação António Quadros."

Afonso Rocha em entrevista à Agência Ecclesia aqui.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ao Agostinho da Silva


"Ao Agostinho da Silva, querido Amigo e Mestre de Ser e de Pensar em Portugal-pátria e em Portugal-Universo com um grande abraço o seu dedicado António Quadros, Maio de 1986"

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O novo espaço da Fundação Lusíada

A Fundação Lusíada foi apresentada em Lamego, a 19 de Maio de 1986, na Igreja de Santa Maria de Almacrave. António Quadros foi um dos oradores. O vídeo da apresentação, com imagens inéditas, pode ser visto aqui.

Vale a pena lembrar que A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos, de António Quadros, foi o primeiro livro a ser publicado pela Fundação Lusíada, corria o ano de 1988.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A liberdade de culto

"Quem, como eu, advoga a liberdade de culto, não pode deixar de sentir uma emoção em reverência, pela religião antiga, pagã (a religião dos campos, mas também das cidades), resistente a tudo, metamorfoseada em santos e templos, mas ainda viva (tão viva quanto os seus ídolos) respondendo às necessidades mais íntimas dos seres humanos.
(...)
Por uma vocação monoteísta, muitos dos estudiosos sempre evocaram a influência judaica, cristã e muçulmana na cultura portuguesa. Poucos tiveram a ousadia de colocar o paganismo como o outro elemento para a formação da nossa cultura (talvez o mais forte, por ter sido o primeiro). Sejamos nós, tal como eles, suficientemente audazes para, também por aí, dirigirmos os nossos estudos. Ou, pelo menos, a nossa curiosidade."

Alexandra Pinto Rebelo
Continue a ler aqui.

Diário de Lisboa, Setembro de 1921

Diário de Lisboa, nº 133, 08.Setembro.1921, p.6.

«Natureza, Razão e Mistério» de Afonso Rocha vence Prémio António Quadros


Natureza, Razão e Mistério, Para uma leitura comparada de Sampaio (Bruno), de Afonso Rocha, é a obra vencedora da 1ª edição do Prémio António Quadros, na área da filosofia.

A cerimónia de entrega do prémio realiza-se no próximo dia 14 de Julho, às 17h00, na Sala Antão de Almada, no Palácio da Independência da Sociedade de História da Independência de Portugal.

Afonso Moreira da Rocha nasceu em 1941, em Penafiel. É licenciado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, mestre em Antropologia teológica, pela mesma faculdade e doutor em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa. É ainda investigador do Centro de Estudos do Pensamento Português. Publicou, entre outras obras, O Mal no pensamento de Sampaio (Bruno): uma filosofia da razão e do mistério, (2006) e A Gnose de Sampaio Bruno (2010). É ainda co-autor das Actas do III Colóquio Luso-Galaico sobre a Saudade em homenagem a Dalila Pereira da Costa.

Natureza, Razão e Mistério uma leitura comparada de Sampaio (Bruno), de 2009, edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda, Colecção: Estudos e Temas Portugueses, ocupa-se, de modo inovador, aprofundado e reflectido de um conjunto de questões centrais na filosofia portuguesa contemporânea, como a ideia de deus, a concepção da religião, o problema ou mistério do mal, o conceito de razão ou o sebastianismo e o messianismo português.

Mais informações aqui.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Delfim Santos e a família Castro e Quadros Ferro


"O epistolário de Delfim Santos (1907-1966) com António Ferro (1895-1956), Fernanda de Castro (1900-1994) e António Quadros (1923-1993) documenta 22 anos de admiração e estima mútuas, reflectindo magnificamente a época em que viveram estas quatro personalidades marcantes da cultura portuguesa. Teve Delfim Santos um percurso singular, que o conduziu de uma juventude de aprendiz de ourives até ao estudioso profundo e expositor brilhante da filosofia do seu tempo, a par do mestre carismático de gerações de futuros docentes na Faculdade de Letras de Lisboa; e são raras as famílias que se notabilizam literáriamente ao longo de duas gerações, como foi o caso da Família Castro e Quadros Ferro — ou também dos Osório de Castro, aqui presentes através de José Osório de Oliveira, grande colaborador de António Ferro e amigo de Delfim Santos. (...)
Estando os pais ausentes no exterior, o contacto de Delfim Santos com a família Castro e Quadros Ferro centra-se agora no  filho, que elege o campo filosófico e literário, sem descurar o das  artes, como terreno para a sua crescente afirmação pública. Partindo do existencialismo e do personalismo, António Quadros retorna  à Renascença Portuguesa de Pascoaes e Leonardo, desenvolvendo a componente profético-espiritualista e pessoana desta corrente, da  qual se tornará um expoente e par de Agostinho da Silva. Delfim Santos, que fora um dos últimos dirigentes da Renascença em fase já  pós-pessoana e director da 5ª e última série do órgão do movimento,  a revista  A Águia, onde Pessoa se estreara em 1912, desenha um percurso inverso, mas não colidente, com o de António Quadros: irá partir  do  saudosismo  nacionalista  e  espiritualista  de  Pascoaes via Leonardo para chegar ao existencialismo e personalismo universalistas."

Filipe Delfim Santos
Delfim Santos e a Família Castro e Quadros Ferro
Edições Fundação António Quadros (2011)
Leia o texto completo aqui.

sábado, 2 de julho de 2011

O seu a seu dono

Para Além d’Outro Oceano” não é de Pessoa mas de Coelho Pacheco, um dos “putos” do Orfeu.

Sabia que António Ferro e Almada Negreiros eram assim chamados, de “putos” do Orfeu (o primeiro, sete anos mais novo que Pessoa, com vinte anos, e Almada, cinco, com vinte e dois. Ferro terá figurado como “editor” por ser ainda menor e, portanto, inimputável, em caso de desaguisados com a justiça…). Não sabia é que havia outro, José Coelho de Jesus Pacheco, com vinte e um anos. Vou contar como finalmente vim a saber quem ele realmente foi. Conheci C. Pacheco, assim indicado, e o poema “Para Além d’Outro Oceano” através da Obra Poética de Fernando Pessoa que, em 1960, a estimada pessoana, pioneira nestas lides, Maria Aliete Galhós, publicou na editora Aguilar, no Brasil. Indica ela, em nota, que o poema se destinava ao nº 3 do Orfeu, e esclarece que o poema está dedicado “à memória de Alberto Caeiro” e que, numa nota de Pessoa para a paginação de Orfeu 3, que chegou a ser composto, o autor do poema é Coelho Pacheco. Comenta ainda que “Pacheco é um episódico heterónimo de Fernando Pessoa de quem se não conhece mais nenhuma produção.” E pronto, ficámos a braços com este “episódico heterónimo” até aos nossos dias.

No volume I das Obras de Fernando Pessoa, recolha editada em 1986, por António Quadros e Dalila Pereira da Costa, encontramos no capítulo “A poesia de um sub-heterónimo” esse mesmo poema, com uma nota de rodapé esclarecendo “não é conhecida a poesia deste subheterónimo, tendo-se já aventado que poderia tratar-se de uma pessoa real, tanto mais que a família Coelho Pacheco era bem conhecida em Lisboa. Mas se assim fosse o autor não se teria já acusado?” (Como, se morrera em 1951, antes da publicação do poema?) (...)"

Eu sabia que Pedro da Silveira aventava oralmente a tal hipótese que António Quadros refere, ou fazia mesmo a afirmação de que o poema em questão era de um tal Coelho Pacheco que existira, sim senhor, e tinha um stand de automóveis na rua Braamcamp. (...) Mas eis senão quando, há uns dias, tive a alegre surpresa de ter nas mãos o original manuscrito do poema “Para Além d’Outro Oceano”, assim escrito pelo seu autor, José Coelho Pacheco, o avô de Ana Rita Palmeirim, que me procurou para mo mostrar! Foi uma fulgurante surpresa! Por se poder fazer finalmente justiça a esse apagado comparsa das aventuras órficas que enveredara pelo caminho dos negócios sem deixar de ser amante das artes e praticante da escrita literária. (Assim fez também Rimbaud, mas este tem o seu lugar na história da literatura francesa…)

Teresa Rita Lopes
em Modernista, Revista do Instituto de Estudos sobre o Modernismo.
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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Prémio António Quadros


O Prémio António Quadros foi criado com o objectivo de celebrar a vida e a obra de António Quadros, assim como de distinguir, encorajar e divulgar o pensamento português nas suas múltiplas expressões e géneros, tarefa a que o pensador dedicou grande parte da sua actividade intelectual. Em 2011, a área seleccionada foi a Filosofia.

A cerimónia de entrega do Prémio terá lugar no próximo dia 14 de Julho, às 17h00, na Sala Antão de Almada da Sociedade de História da Independência de Portugal.  O nome da obra literária vencedora será divulgado uma semana antes.

Instituído pela Fundação António Quadros, o Prémio, será entregue por Mafalda Ferro, presidente da Fundação, e por António Braz Teixeira, presidente do júri também constituído por Miguel Real, Manuel Ferreira Patrício, Manuel Cândido Pimentel e Paulo Borges.