segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

2007-2016 / Fim

9 anos e 829 posts depois agradeço a todos os que ao longo deste tempo acompanharam esta página. O meu nome se existe deve existir também aqui.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

António Quadros | Mário Cesariny


"Existe uma herança do surrealismo, que está ainda bastante viva na poesia e na arte portuguesas, muito embora sem ortodoxia. Conta com alguns valores notáveis. (...) Pessoalmente interessa-me mais, no entanto, a sua influência indirecta em poetas e artistas que, não podendo classificar-se propriamente como surrealistas, contudo beneficiaram do seu sopro de liberdade, de imaginação e de abertura para as vozes do inconsciente. Neste sentido, a influência do surrealismo em Portugal acabou por ser inesperadamente mais profunda do que a do neo-realismo ou do existencialismo. (...) Dentro do panorama do surrealismo português Mário Cesariny marcou uma posição inconfundível e original porque (...) foi um dos mais livres e porventura o mais creador dos nossos poetas surrealistas (...) [porque] foi um inovador, mas encontrou formas de se re-ligar a raízes antigas da cultura portuguesa, a arquétipos (...) "

António Quadros
Revista Espacio/ Espaço escrito (1991)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ainda


"Ainda o homem busca o divertimento próprio no sofrimento alheio. Ainda encontra prazer em infligir a dor. Ainda se não envergonha de abusar da inteligência na tortura da estupidez. Ainda não reconhece a solidariedade da vida, e não reputa ímpio o escarnecer da inocência do animal. Essa ferocidade conservada nos costumes, é um estigma. (...)" 

Sampaio Bruno
Os cavaleiros do  amor (póstumo)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Aviso


A brasileira Editora Deriva deu à estampa a obra «Os Justos», de Albert Camus, com tradução de Robson dos Santos. 

Aparentemente, uma nova tradução. Ora, depois de me ter chegado, através de Denise Bottman, a informação de que, na verdade, o texto publicado era a versão de António Quadros e não do dito tradutor, contactei a editora no sentido de lhes pedir um esclarecimento acerca desta possibilidade, no mínimo, surpreendente. 

Infelizmente confirmei aquilo que não queria, comparando, inclusive, as duas versões. A editora assumiu o erro, redigiu um comunicado com um pedido de desculpas aos leitores, tirou o livro do catálogo e comprometeu-se a retirar a obra de circulação.

A quem, ainda assim, agora ou depois, chegar às mãos o livro, na edição referida, queiram saber que o tradutor do texto foi e é António Quadros.

Os Justos.

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Essa semana recebemos o comunicado de um comprador da Deriva sobre um sério problema na nossa coleção de livros de teatro. Inclusive fomos denunciados de “pilhar” direitos autorais alheios. Hoje pela manhã recebemos uma mensagem de António Quadros Ferro neto do Sr. Antônio Quadros, real tradutor do texto os Justos de Albert Camus que estava creditado a outra pessoa.

Ficamos cientes do problema das traduções somente ontem no final do dia. Como a Deriva não tem fins lucrativos, e todos membros desenvolvem outras atividades, não conseguimos responder prontamente a reclamação do leitor.

Já retiramos os livros do catálogo e estamos recolhendo as poucas unidades que estão com livreiros independentes. Os projetos de livros chegam a nós de diversas maneiras, e por diferentes mãos, e realmente assumimos o erro de não haver conferido os dados técnicos dos livros referidos. (...)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A sua realidade

“Como é difícil a uma criança distinguir o seu sonho,
que é a sua realidade,
do que os homens já cristalizaram
em realidade para eles!
As escolas, meu Deus, que tortura!”

 Leonardo Coimbra

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ferreira de Castro e os jovens autores do romance nordestino

"É pouco referida a influência que os dois primeiros romances de Ferreira de Castro, Emigrantes e A Selva, tiveram nos jovens autores do romance nordestino da década de 1930, nomeadamente Jorge Amado e José Lins do Rego. Creio que Álvaro Salema terá sido o primeiro a escrevê-lo explicitamente. Numa excelente conferência sobre «O romance brasileiro actual», proferida no início dos anos sessenta, António Quadros, já em balanço final e referindo-se à tradição portuguesa da ficção narrativa do Brasil, associa o portuguesíssimo e universalista escritor português sem outra razão aparente que não seja a de evocar o poderoso romance que tem por cenário a magnitude vegetal amazónica, ora edénica ora -- as mais das vezes -- infernal, descrita como nenhum brasileiro o fizera. (...)"

Ricardo António Alves

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Aberturas para o futuro

"Todos os homens têm um passado: armazenam na memória momentos e eventos que lhes deixaram sulcos de desejo, aberturas para o futuro através dos quais vislumbram o passado novamente ao seu encontro como possibilidade redentora; mas só alguns, muito poucos, os Poetas, cultivam e contemplam, conscientemente, o tempo volvido em eterna promessa. (...)"


António Barahona
"Os dois sóis da meia-noite", átrio, 1990

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ana Hatherly e a Filosofia Portuguesa

"Quem me introduziu no círculo da Filosofia Portuguesa foi o António Quadros (...) e se bem que eu viesse a ser pouco mais do que ocasional participante nas reuniões do grupo, que então se realizavam no café Colonial da Avenida Almirante Reis, o meu contacto com os dois Mestres que a elas presidiam chegam a ser bastante significativo para mim nessa época, sobretudo com José Marinho, com quem tinha muito mais afinidades e que encontrava frequentemente em casa de amigos comuns. (...)"
Ana Hatherly
"Recordações de José Marinho e do grupo da Filosofia Portuguesa nos anos 60" 
em José Marinho, 1904-1975: todo o pensar liberta (2004)

A noite não foi

“Não há então sentido para aurora, nem para infância, para nenhuma origem, para nenhum princípio. A noite não foi, nenhum sol teve ocaso, nada se deu na diversidade da luz, do que traz a luz ou a oculta, nada nasceu, não há morte. (...)”

José Marinho
Teoria do Ser e da Verdade (1961)

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Uma realidade conhecida e exercida pelo pensamento



"O problema principal do elenco de teses consiste na demonstração de que a filosofia é uma teoria de verdade, e não propriamente uma teoria do ser ou Ontologia, teoria essa que se erige perante uma realidade conhecida e exercida pelo pensamento, reconhecendo-se como o mundo sensível é real, mas a cujo íntimo só à filosofia, e não à ciência, é dado aceder."

Pinharanda Gomes
do Posfácio a
"As teses da Filosofia Portuguesa", de Orlando Vitorino
Guimarães (2015)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Relações entre Portugal e o Brasil | Tania Martuscelli

"A Águia era tão popular no Brasil ao ponto de ser alvo de uma trapaça. (...) Em Janeiro de 1915 a revista viu-se obrigada a publicar um aviso para esclarecer que Tem andado pelo Brasil um curioso cavalheiro, cujo nome muito bem sabemos, a acolher assinaturas para a Águia por sua conta e proveito, são absolutamente falsos de precedência  e intenção os impressos."

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Passei para além de tudo como o rio

"Passei para além de tudo como o rio, que flui para o mar, e que, se não vai pela direita, é pela esquerda, e vai sempre, e o mar espera-o ao longe. (...)"

Fernando Pessoa
SAKYAMUNI (s.d)

Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. 
Introdução, organização e notas de António Quadros | Europa-América, 1986, p. 229.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pai e filho


Na miséria deste mundo

"Na miséria deste mundo - e no conforto deste mundo, em todas as situações deste mundo - o homem é sempre o homem, um ser mistério-interrogativo do seu destino, vocacionado para a morte e nunca totalmente distraído da incompletude e da frustração da sua personalidade satisfeita. (...)"

António Quadros

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Não se educa com teorias

“Não existe, nem creio que alguma vez exista, uma forma exacta de educar, pois que a sociedade está constantemente a evoluir e a sua própria evolução implica a negação pela juventude da validade dos princípios educativos imposta pelos antecessores. Não existem educadores perfeitos, e quando há pretensos educadores perfeitos, os seus produtos são casos patológicos (...)".

“Cada um eduque com verdade e espontaneamente e que os educadores sejam personagens reais e não autómatos eruditos e sofisticados (…) 

Se a educação pode ser encarada como um fenómeno cultural que orienta o diálogo com o educando e os outros educadores, a ação educativa deve sempre basear-se na relação espontânea, afetiva e instintiva pois que quem educa são as personagens verdadeiras e não as figuras ideais. Não se educa com teorias mas com princípios e preconceitos adquiridos na experiência e no convívio familiar e comunitário, não sendo a educação uma matéria que se ensine, mas fundamentalmente uma atitude que reflete o confronto entre as vivências do educando que fomos com o educador que pretendemos ser (...)”.

João dos Santos

Quando uma relação humana se estabelece

“Só se educa quando uma relação humana se estabelece, se desenvolve e se confirma na intimidade de cada uma da crianças e adultos em presença (...)".

João dos Santos

Psicanálise e Ciência da Educação

"O maior interesse da Psicanálise para a Ciência da Educação funda-se sobre um enunciado que se tornou evidente, o de que não pode ser educador senão aquele que pode sentir do interior a vida psíquica infantil e quando nós, adultos, não compreendemos as crianças é porque deixámos de compreender a nossa própria infância (...)"

João dos Santos

Sabedoria

"O importante é trazer no coração a vida que nos sopram aqueles que tinham a sabedoria (...)"

João dos Santos

Se as escolas

“Se as escolas fossem oficinas onde a criatividade tivesse um papel primordial mesmo na aprendizagem da leitura e contas, as crianças trariam consigo e dentro de si mais objectos de amor para se protegerem da vida. (...)” 

 João dos Santos

quarta-feira, 13 de maio de 2015

João Cabral de Melo Neto e Ruben A.

"Aquela nossa viagem de automóvel foi uma das melhores que fiz na vida e ainda tenho nos olhos tudo o que vi (...)"

João Cabral de Melo Neto sobre um passeio ao norte 
de Portugal na companhia de Ruben A.
28 de Abril de 1968


Egipto

"Com a publicação do romance póstumo Kaos, termina a carreira literária de Ruben A., a menos que o livro, várias vezes anunciado pelo autor mas nunca aparecido Egipto - Os mortos também comem, possa surgir um dia das profundezas de um qualquer recôndito. (...)"

Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz
Ruben A. Uma biografia, Editorial Estampa (2012), p.279

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Um nervosismo absurdo, sem cura, que me havia de prejudicar pela vida fora

"O efeito medíocre das minhas classificações nunca me preocupou muito... Um nervosismo absurdo, sem cura, que me havia de prejudicar pela vida fora, tanto em casos amorosos como em situações de relativa importância. Deformava a realidade e criava em seu lugar uma poderosa imaginação... deu-me uma certa humildade que conservei intacta pela vida fora. Realmente nunca passei a arrogante."

Ruben A.
O mundo à minha procura I (1964)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sobretudo o grito

"E o grito - sobretudo o grito - que se vai atenuando, mas que ainda ecoa, como último sinal de triunfo de quem acabou a violência e está farto de matar (...)"

Raul Brandão
Os Pescadores (1923)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Ambiguidade congénita

"(...) A ambiguidade da metafísica não surge como defeito, inerente ou não, mas condição preliminar do pensamento que pretende descobrir o sentido da existência. O pensamento exige sempre um contrario para se afirmar. Nenhuma noção pode ser pensada exclusivamente por si, é sempre necessária outra e nesta dualidade reside a ambiguidade congénita de todo o pensamento, e em especial do pensamento metafísico. O nada é impensável, mas o pensamento pretende objectivá-lo como pensável. A existência é impensável, mas sem ela o pensamento não poderia manifestar-se. E deste modo, a metafísica é consciente e paradoxal ambiguidade." 

 Delfim Santos 
 "Da ambiguidade na metafísica" 
 Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia 
tomo 2, 840-846, separata (1949)

A metafísica é trânsito

"Mas em antecipação e em conclusão digamos que física não se opõe à metafísica, como é corrente a partir de Leibniz. O rio não se opõe à margem. As margens é que são entre si opostas. Isto é, não há metafísica sem física, nem física sem metafísica, como não pode haver ultrapassagem de um rio que não seja rio. (...) A metafísica é por si garantia da coexistência dos opostos sem os quais ela nada poderia ser. O que em Aristóteles se opõe ao físico é o lógico e não o metafísico. (...) A metafísica é trânsito em função de duas instâncias; é fácil desconhecer o real, é mais difícil desconhecer o ideal como ingrediente de pensamento. Não é só difícil mas impossível, e nisto reside a força aparente da prova idealista. O real exige como prova testemunhal de si próprio o pensamento, e daí a suposição da anterioridade e superioridade de valor do pensamento perante a existência. Mas metafísica, como vimos, não é só pensamento, mas esforço de correlação entre o pensamento e a existência. (...)"

Delfim Santos 
"Da ambiguidade na metafísica" 
Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia tomo 2, 840-846, separata
(1949)

O de onde e para onde da metafísica

"O termo metafísica tem dois núcleos de referência. Está relacionado com "física" e é actividade transponente, como indica o prefixo "meta". Mas a transponência é acto que implica dois sentidos. Meta é indicio de "direcção para", mas nada nos diz acerca do sentido da direcção. Metafísica é, pois, actividade de pensamento que ultrapassa a física. Mas ultrapassar a física não tem sentido unívoco, como não tem sentido unívoco ultrapassar um rio. Um rio tem duas margens e para que a expressão seja clara em seu sentido temos de saber "de que" margem e "para que" margem se passou para compreendermos plenamente o sentido da ultrapassagem. Assim com a metafisica, o termo não é unívoco porque não nos diz de "onde" ou "para onde" se dirige a ultrapassagem. (...)"

 Delfim Santos 
"Da ambiguidade na metafísica" 
Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia 
tomo 2, 840-846, separata
(1949)

O nada não nos diz nada sobre a metafísica

"O problema metafísico do Nada compreende, como problema, toda a metafísica, mas se esse e outros problemas compreendem toda a metafísica e por ele são problemas, nem por isso se nos diz o que seja a metafísica. (...)"

Delfim Santos
"Da ambiguidade na metafísica"
Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia
tomo 2, 840-846, separata
(1949)

domingo, 19 de abril de 2015

Ruben A.

Ruben A. em Ponte de Lima com Sophia de Mello Breyner
e Francisco Sousa Tavares

- Em que idade escreveu (e publicou) o primeiro livro?
- 28 anos. Páginas I. 1949. Fez cócegas na sonolência nacional. Quem as fez acordar do barbitúrico râncico foi o João Gaspar Simões e o António Quadros. É a verdade, a eles devo muito.

Ruben A.
Diário Popular, 10 de Julho de 1975