"Uma verdadeira teoria do conhecimento histórico procura, pois, não o dever ser social em ordem a uma dialéctica classista em nome da qual escolhe e ordena os factos, mas o ser do homem, na sua integralidade, entre constante conotação entre o sido que até nós chega e o sendo que vivencialmente experimentamos, contemplamos e analisamos. Tal como o conhecimento do outro não prescinde do conhecimento do eu, também o conhecimento do passado não dispensa o conhecimento do presente, que representa, na ordem temporal, o eu, até porque o presente não é um momento cronológico abstracto, mas sim o presente vivido pelo historiador. O sido é captado pelo sendo não tanto em termos dialécticos como em termos dinâmicos, porque o tempo não tem rupturas e o desfecho da história passada está sendo, continuamente está sendo, numa impossibilidade de detenção ou cristalização que desespera os sistematizadores de detenção ou cristalização de unidades bio-históricas à Spengler. O resultado dos movimentos do passado sou eu que os meço, e meço-os em mim, porque o meu dinamismo prospectivo e futurante corresponde exactamente, de uma forma irredutível a conceitos rígidos, à incompletude de tais movimentos. [...]"
António Quadros
Introdução à Filosofia da História
Editorial Verbo, 1982, p.64
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