"Data, pelo menos, de 1957, a amizade que me ligou ao escritor António Quadros. Aceitou-me no jornal «57», que dirigia e onde colaborei com vários artigos. No quinzenário «A Planície», de Moura, escrevi sobre um livro seu que muito me interessou: «A Angústia do Nosso Tempo e a Crise da Universidade» (1956). É um dos documentos que deixo no meu site «O Gato das Letras», secção «Lugar aos Amigos». Mas os melhores documentos são manuscritos e dactilmanuscritos, dele e meus, que guardo para a história na pasta preta vulgaris, Nº 48 (bola azul) do meu espólio. Além das cartas trocadas entre nós, há uma dactilografia minha, extensa, sobre o jornal «57», e que nunca talvez venha a saber se foi publicada: é provável que sim, porque se trata de uma cópia a papel químico do original. As minhas dissidências com a gente d’ A Planície, nunca com o Miguel Serrano mas com o núcleo do Porto que se tornou dominante no jornal, começaram exactamente por essa minha amizade com António Quadros. Para os esquerdistas meus «amigos» era proibido escrever sobre o filho de António Ferro e colaborar no jornal por ele dirigido. Anos mais tarde, num dos meus muito desempregos, foi ele, como director das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian, que me deu oportunidade de trabalhar na itinerante de Tavira. Volto sempre a ler os seus livros, incluindo aqueles em que estuda a filosofia portuguesa e não preciso de dizer que concordo com a maioria das suas teses, correctíssimas num país de intelectuais desalmados, para não dizer de «estrangeirados» sem remédio.
Voltarei sempre que possível a reler o António Quadros, repertório inesgotável de ideias e lucidez inexcedível."
Afonso Cautela
(1 de Agosto de 2005)
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