"(...) A reflexão católica sobre a estética literária parece ter ficado como que estagnada na obra de Francisco Costa e de João Mendes. O primeiro, pela doutrina que produziu sobre as relações da Fé com a Literatura e mormente com a arte do romance, em apologia ao que designou por realismo integral, que não pode deixar de ser cristão; o segundo, pela abrangência que levou a cabo de toda a literatura portuguesa, numa perspectiva em que investiu mais do que a visão literária, pois a enriqueceu com o exercício de uma fundamentação filosófica e teológica. Este juízo não exclui a presença da vigília de António Quadros à literatura portuguesa. Na sua extensa bibliografia, a exegese literária de um ponto de vista filosófico, orientado por um entendimento existencial e por um critério hermenêutico, elaborado à luz de uma cultura situada, quase sempre contempla os fenómenos literários (sejam os novelísticos, sejam os poéticos) da língua e da cultura. Embora não tenha exercido a crítica como escritor católico declarado, estando mais identificado com a chamada ‘Filosofia Portuguesa’, cumpre firmar que o pensamento de Quadros é profusamente católico, principalmente depois do ensaio de antropologia filosófica intitulado O Movimento do Homem (1964). Ainda que tivesse iniciado a actividade cultural em 1947, ele é um autor da segunda metade do século XX e, no cenário da filosofia versus literatura, a sua obra principal é da segunda vertente, e baste citar três títulos de fundo: Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista (1988-1989), A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos (1989) e o seu derradeiro tratado de exegese, e, Estruturas Simbólicas do Imaginário na Literatura Portuguesa (1992). (...)"
Pinharanda Gomes
Centro de Estudos de História Religiosa - Universidade Católica Portuguesa
Lusitania Sacra. Lisboa, (2000)
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