"Meu querido Amigo:
(...) Ando a ver neste momento se consigo acertar o ritmo para a minha existência quotidiana e com aquela ordem de prioridades que seja por um lado a mais consentânea com a minha personalidade (...) e por outro lado com o que é mais urgente eu tentar aqui e agora, a partir da perspectiva em que me vejo colocado. (...) Tenho andado por aí a bater contra as paredes. E o meu método tem sido nadar tanto quanto possível na corrente (...) não para me deixar levar por ela, mas para tentar desviá-la de dentro. Há os que se lhe opõem frontalmente; há os que se isolam, na prossecução de uma obra profunda e que por si própria se imponha, sem cedências de diálogo e sem os compromissos de acção.
Cada um é como é. Eu sou do signo Caranguejo. Outra metáfora seria: ladeio, em vez de ir directamente e claramente ao fim; ladeio, parece que recuo, dou uma volta, faço figura de ambíguo, ou de opaco, ou de desajeitado, ou de pouco firme. (...) Contudo sou persistente. (...) Sei que o meu caminho não é certamente o melhor. É o meu, unicamente porque é o que posso tomar. (...)
Que fazer, pois?
Pois, evidentemente continuar.
(...)"
António Quadros, 8 de Março de 1976
em resposta a uma carta de Agostinho da Silva de 9 de Fevereiro do mesmo ano.
cf. António Quadros, A Arte de Continuar Português (1978) pp 191-203.
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