"Nesta terra de analfabetos e homens de letras, em geral muito abaixo dos analfabetos, os que pensam com dor e profundeza, os que sentem pensando e passam sentindo, passam ignorados ou mal conhecidos pela parte episódica da sua vida.
É assim que todo o meu labor filosófico, todo o meu trabalho emotivo, ainda há pouco, você o sabe, foram esquecidos para me emprestarem nos jornais uma fisionomia de político, com amigos políticos ( votos?! ) e tudo.
Isto tem o seu lado trágico: bem mostra como é difícil inscrever no espaço ( «objectivar», em linguagem filosófica ) a verdadeira máscara da nossa intimidade.
Já pensou, meu amigo, como somos diferentes na apreensão alheia e como na opinião que os outros de nós fazem é a mão brutal da fatalidade a deformar o modo essencial do nosso ser?
A flor da consciência é a mais trémula e hesitante, mal pode abrir as melindrosas pétalas no vendaval que a brutaliza. (...)"
Leonardo Coimbra em carta a Ângelo Ribeiro,
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