"O sebastianismo parte realmente da consciência infeliz da realidade portuguesa, em dado momento histórico, para apostar na esperança na regeneração através de um salvador pessoal, de um chefe carismático e pessoal. Tal «consciência feliz» é a primeira e a mais clara cifra de Os Lusíadas. Para o poeta (em expressão de uma eloquência desgarradora), a pátria «está metida/ No gosto da cobiça e da rudeza/ Duma austera, apagada e vil tristeza».
Os críticos interpretam, em geral, este passo, de uma forma por demais simplista. Estariam decadentes as velhas virtudes morais; os Portugueses ter-se-iam tornado corruptos e ambiciosos; a desagregação em marcha seria causada por um abaixamento do carácter e do ânimo.
Mas não nos podemos esquecer (...) a sensação de desenraizamento, de perda de identidade e de distanciamento em relação a toda uma continuidade histórica, que se ressentiu como tendo sido traída pelo italianismo, pelo castelhanismo e pelo contra-reformismo dogmático de D. João III. (...)"
António Quadros
Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista (1982) pp. 40-41
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