"Quis testemunhar-te, provar-te, e abri a memória da família e o passado, primeiro a pequena, depois a grande. Ansiosamente: mas em resposta só aí encontrei imagens vivas doutras vidas desconhecidas: casas nortenhas de negro granito, pedra sobre pedra solta, à beira do rio verde. Era justo após a calamidade inundação: as gentes pousavam nas margens, meditando ainda, homens e mulheres de negro vestidos; ou na levada lançavam flores brancas, ricárdias, em recordação e oblação, que nas águas tumultuosas ficavam suspensas. Tu olhavas sorrindo, minha surpresa, persistência noutra vida aí negada, ensinando-me a assumir o despojamento, o sacrifício ofertado noutra vida encarnada desconhecida.
E no fim, ao alto da escada do castelo, disseste donde vinhas, o outro lado do mar, a terra verdadeira: e que esperavas a Mãe.
E o teu nome complexo. Sobre mim curvado, o murmuraste, claro."
Dalila Pereira da Costa
Os Jardins da Alvorada
Lello & Irmãos Editores
Porto (1981)
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