As árvores são sombras das raízes
E os homens são sombras de outras raízes
Mais fundas. Assim, dentro de mim,
Uma sombra cobre todas as luzes e todos os sons
Velando a minha alegria intacta e longínqua
E prometendo o paraíso perdido mas não esquecido.
Imagino o meu céu nos meus limites
E o céu dos outros ainda nos meus limites.
As minhas mãos atravessam o universo misterioso
E tocam as ignotas fontes da poesia e da vida.
O meu olhar, porém, fica comigo e chora
Esse amor de lágrimas e tristezas
Onde, como solitária ilha de coral,
A minha existência espera o nascimento de um novo continente.
António Quadros
edição de Ana Hatherly, Lisboa, Direcção-Geral do Ensino Primário, 1960, p. 72.
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