domingo, 16 de março de 2014

Pensando bem, não era infeliz


"Você ainda é novo e creio que essa vida lhe agradaria. Disse que sim, mas que, no fundo, me era indiferente. Perguntou-me depois se eu não gostava de uma mudança de vida. Respondi que nunca se muda de vida, que em todos os casos as vidas se equivaliam e que a minha aqui, não me desagradava. Mostrou um ar descontente, disse que eu respondia sempre à margem das questões e que não tinha ambição, o que, para os negócios era desastroso. Voltei para o meu trabalho. Teria preferido não o descontentar, mas não vejo razão alguma para modificar a minha vida. Pensando bem, não era infeliz. Quando era estudante, alimentara muitas ambições desse género. Mas, quando abandonei os estudos, compreendi muito depressa que essas coisas não tinham verdadeira importância. (...)"
Albert Camus
O Estrangeiro, trad. de António Quadros

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