"A poesia subsiste, a poesia subsistirá. Independentemente de questões intrínsecas, que explicarão o êxito momentâneo de certas obras, apostamos numa forma de arte que particularmente se apoia na linguagem e nas suas mais profundas virtualidades, vizinha afinal de uma linguagem popular que, embora prejudicada pelo êxodo rural e pelo consequente domínio, mais aparente do que real, de um idioma reduzido, fundamental digest, não deixará de sobreviver enquanto sobre a terra algum homem houver. A poesia núcleo e limite das artes que se apoiam na linguagem que distingue o homem dos outros animais, apresenta-se-nos como o último reduto dessas artes. Atitude utópica, aposta, justificação própria? Depois do que já, ao longo deste artigo, dissemos, cremos honestamente que não. Na pior das hipóteses, mortal como o homem e como a sua única terra, a poesia permanecerá não só como a forma mais pura de arte literária mas também como a indisciplinadora mais audaz, como a afirmação mais vigilante de uma consciência individual e social capaz de acusar todas as traições do homem ao seu destino humano. (...)"
Ruy Belo
Poesia, Último Reduto da Literatura?
(Diário de Lisboa, 14-04-1972)
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