“Para Além d’Outro Oceano” não é de Pessoa mas de Coelho Pacheco, um dos “putos” do Orfeu.
Sabia que António Ferro e Almada Negreiros eram assim chamados, de “putos” do Orfeu (o primeiro, sete anos mais novo que Pessoa, com vinte anos, e Almada, cinco, com vinte e dois. Ferro terá figurado como “editor” por ser ainda menor e, portanto, inimputável, em caso de desaguisados com a justiça…). Não sabia é que havia outro, José Coelho de Jesus Pacheco, com vinte e um anos. Vou contar como finalmente vim a saber quem ele realmente foi. Conheci C. Pacheco, assim indicado, e o poema “Para Além d’Outro Oceano” através da Obra Poética de Fernando Pessoa que, em 1960, a estimada pessoana, pioneira nestas lides, Maria Aliete Galhós, publicou na editora Aguilar, no Brasil. Indica ela, em nota, que o poema se destinava ao nº 3 do Orfeu, e esclarece que o poema está dedicado “à memória de Alberto Caeiro” e que, numa nota de Pessoa para a paginação de Orfeu 3, que chegou a ser composto, o autor do poema é Coelho Pacheco. Comenta ainda que “Pacheco é um episódico heterónimo de Fernando Pessoa de quem se não conhece mais nenhuma produção.” E pronto, ficámos a braços com este “episódico heterónimo” até aos nossos dias.
Sabia que António Ferro e Almada Negreiros eram assim chamados, de “putos” do Orfeu (o primeiro, sete anos mais novo que Pessoa, com vinte anos, e Almada, cinco, com vinte e dois. Ferro terá figurado como “editor” por ser ainda menor e, portanto, inimputável, em caso de desaguisados com a justiça…). Não sabia é que havia outro, José Coelho de Jesus Pacheco, com vinte e um anos. Vou contar como finalmente vim a saber quem ele realmente foi. Conheci C. Pacheco, assim indicado, e o poema “Para Além d’Outro Oceano” através da Obra Poética de Fernando Pessoa que, em 1960, a estimada pessoana, pioneira nestas lides, Maria Aliete Galhós, publicou na editora Aguilar, no Brasil. Indica ela, em nota, que o poema se destinava ao nº 3 do Orfeu, e esclarece que o poema está dedicado “à memória de Alberto Caeiro” e que, numa nota de Pessoa para a paginação de Orfeu 3, que chegou a ser composto, o autor do poema é Coelho Pacheco. Comenta ainda que “Pacheco é um episódico heterónimo de Fernando Pessoa de quem se não conhece mais nenhuma produção.” E pronto, ficámos a braços com este “episódico heterónimo” até aos nossos dias.
No volume I das Obras de Fernando Pessoa, recolha editada em 1986, por António Quadros e Dalila Pereira da Costa, encontramos no capítulo “A poesia de um sub-heterónimo” esse mesmo poema, com uma nota de rodapé esclarecendo “não é conhecida a poesia deste subheterónimo, tendo-se já aventado que poderia tratar-se de uma pessoa real, tanto mais que a família Coelho Pacheco era bem conhecida em Lisboa. Mas se assim fosse o autor não se teria já acusado?” (Como, se morrera em 1951, antes da publicação do poema?) (...)"
Eu sabia que Pedro da Silveira aventava oralmente a tal hipótese que António Quadros refere, ou fazia mesmo a afirmação de que o poema em questão era de um tal Coelho Pacheco que existira, sim senhor, e tinha um stand de automóveis na rua Braamcamp. (...) Mas eis senão quando, há uns dias, tive a alegre surpresa de ter nas mãos o original manuscrito do poema “Para Além d’Outro Oceano”, assim escrito pelo seu autor, José Coelho Pacheco, o avô de Ana Rita Palmeirim, que me procurou para mo mostrar! Foi uma fulgurante surpresa! Por se poder fazer finalmente justiça a esse apagado comparsa das aventuras órficas que enveredara pelo caminho dos negócios sem deixar de ser amante das artes e praticante da escrita literária. (Assim fez também Rimbaud, mas este tem o seu lugar na história da literatura francesa…)
Teresa Rita Lopes
em Modernista, Revista do Instituto de Estudos sobre o Modernismo.
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1 comentário:
Fantástico, todos de parabéns! Rita Ferro
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