quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Da Filosofia da Saudade

"Que a saudade seja um sentimento, é afirmação que, decerto, não levantará relevantes objecções. Que possa ser objecto ou tema de reflexão filosófica parece, igualmente, não suscitar dúvidas ou oposições consistentes. Que, no entanto, possa pretender-se constituir a saudade de algo de originário e radical, dotado de uma densidade ou de uma essencialidade ontológicas, a ponto de nela se poder fundar um sistema filosófico ou encontrar resposta às primeiras interrogações metafísicas, por envolver ou implicar, em si, a mais séria e decisiva problemática não só antropológica como também cosmológica e teológica - desde o problema do mal e da liberdade, até ao da realidade do tempo e ao do mesmo e do outro e do uno e do múltiplo - é já tese que a muitos se apresentará desprovida de sentido ou de razão filosófica, apesar da importância que o pensamento contemporâneo atribuiu à reflexão sobre sentimentos como a angústia, o desespero, a esperança ou o sentimento trágico, conferindo-lhes uma dimensão ontológica e deles partindo para uma demanda cujo destino é uma ontologia ou uma metafísica fundamental. (...)"

António Braz Teixeira
"Introdução à Filosofia da Saudade"
em Deus, O  Mal e a Saudade, Fundação Lusíada (1993), p. 117.

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