terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Pasternak-Jivago

Boris Pasternak
"Por certo o Doutor Jivago pode ser considerado, sob um ângulo social e mesmo psicológico, como a crónica da guerra civil russa, articulando, de forma que lembra irresistivelmente o Tolstoi de Guerra e Paz, a sequência exterior dos eventos, os remoinhos humanos por ele agitados e os reflexos de todo este turbilhão revolucionário numa alma sensível e inteligente como é a de Pasternak-Jivago, testemunha e personagem cuja confrontação difícil com a realidade envolvente constitui a própria trama do romance. Considero [Boris] Pasternak o melhor prosador russo deste século, depois de Tolstoi. É um grande poeta e um grande romancista, da família espiritual de Pushkine, que olha com melancolia em sua volta e assiste ao desmoronar da cultura criadora do seu país, ao combate à personalidade e à liberdade individual. O seu Doutor Jivago é ele próprio, intelectual reduzido ao silêncio, mas pode ser também um retrato do próprio espírito russo, sujeito ao colete de forças do sistematismo germanizante.
Pasternak pouco beneficiou do período de liberalização da época de Khrouschev, que Ilya Ehrenburg, escritor muito ocidentalizado, mas sem o seu génio, simbolizou no seu romance, aliás medíocre, O Degelo.

António Quadros
Ficção e Espírito
(1971)

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