quarta-feira, 7 de março de 2012

Só amor devia ser


"Queria só contribuir para que tu, amigo desconhecido, sentisses dentro de ti uma só coisa, o silêncio. Podes chamar-lhe também, plenitude. Ou harmonia. Ou no princípio, senti-lo como uma música leve. Mas o seu outro lado é mesmo silêncio. E à tua volta todas as coisas, começam também a tocar, participar dessa harmonia. Suspensão, também te poderá acontecer. (...) Chama-lhe paz. Vem aos pedaços, em dias mais ou menos prolongados e juntado-se depois uns aos outros, até fazer uns inteiros cada vez maiores. (...) Mas na dor e tristeza sentida. E fica só essa entrega, consumação em doçura. Em lamento de silêncio. Porque tudo é sofrimento de não ser digna. (....) Só sofrimento de ofensa, dureza dada em paga do amor, que só amor, redobrado, puro, estreme, devia ser."

Dalila Pereira da Costa
"O Verbo Secreto", em Os Jardins da Alvorada
Lello & Irmãos Editores
Porto (1981), pp. 112-113.

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