Georges Duhamel |
"Sou incorrigível. Cheguei hoje a esta conclusão luminosa. Dela se liberta, pouco a pouco, uma verdade de tal maneira amarga, que chega a ser reconfortante. Sim, sou incorrigível, eu e todos os homens. Se os homens pudessem melhorar, seria muito triste pensar que não o fazem. Mas pensarque não têm esse poder, leva-nos, pelo menos, a uma infinita indulgência. Indulgência que, no fim de contas, não consigo sentir, visto que a indulgência me falta por natureza, e a natureza é imutável. É bem claro. Não pode ser mais claro. Devia ter sido razoável e não ter querido coisas extravagante! Santos! Minha mãe talvez seja santa. Minha mulher, também. (...) Neve. Frio. Economizo o mais que posso, pois este fim de mês, que também é fim de ano, é particularmente duro. Quase tudo o que me restava, dei-o à minha família. Vivo acocorado junto a um fogãozinho que anda ao retardador. Enquanto escrevo, observo a mão que segura a caneta. Pertencerá a Salavin? Nunca a tinha examinado tão cuidadosamente. Não me agrada. É feia. Nem sei como pude julgar que viria a ser qualquer coisa de puro, tendo umas mãos assim.
Gostava de ser pulgão e viver numa roseira."
Gostava de ser pulgão e viver numa roseira."
Georges Duhamel
Diário de Salavin (1945)
Trad. de António Quadros
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