"103.º Dia
Com o seu inesgotável talento, aparentemente conciliador mas intimamente revulsivo, António Quadros descreve, numa palestra pública, como é que, há longos longos anos, o Estado não atende à voz dos «intelectuais», fenómeno que explica a crise que, há longos longos anos, se instalou entre nós. Não atende, quer dizer, não entende. Porque é que os «intelectuais» não deitam mão ao Poder?"
104.º Dia
(...) Que obstáculo se interpõe entre os «intelectuais» e os poderes do Estado? Shakespeare, que sabia destas coisas, fez dizer a Júlio César: «Cássio é homem perigoso. Lê muito e pensa demasiado».
Vou eu andando na rua a pensar nisto tudo e dou de caras com o Manuel Múrias que logo, truculento como uma personagem shakespereana me atira: «Sou muito seu amigo, mas já preveni na família: este Orlando Vitorino é o homem mais perigoso que há em Portugal. Se ele ganha as eleições, sou o primeiro a fugir». Não há dúvida: o Múrias também sabe destas coisas."
Orlando Vitorino
em "O processo das Presidenciais 86",
(1986), p. 62
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