O que mais nos interpela na sua existência é o dom total do ser, por um abandono de todos os bens terrestres e por um despojamento iluminado e luminoso que reproduz, como nenhuma outra figura heróica e santa, a opção absoluta de Jesus da Nazaré. Interpela-nos e, diremos mais, provoca-nos, instabiliza-nos, angustia-nos (ao mesmo tempo que nos inspira), porque o seu prodigioso e todavia exemplar destino foi possível num contexto social, histórico e humano comum.
A imitação de Cristo, por muito sincera e genuína que seja, permite-nos apesar de tudo uma distância, uma autodesculpa, não tanto porque a pessoa histórica de Jesus viveu a sua breve saga ardente numa época longínqua, noutro continente e numa terra para nós pouco familiar, mas sobretudo porque o filho de Deus, Deus na sua encarnação terrena ou (para os descrentes) o Profeta fundador de uma civilização, nos transcende infinitamente, nos supera vertiginosamente, sem deixar de nos falar, de nos atrair e de nos elevar para o espírito da Verdade.
Por certo que a sua historicidade trouxe a marca de uma fraternidade colectiva para connosco, foi uma inserção exemplar na existência terrena e no espaço social, doou-nos a esperança e a promessa de salvação por uma escatologia a partir da encarnação e da cruz, da morte e da ressurreição em espírito e em carne.
Todavia, continuamos incapazes de sair do palácio das nossas quimeras frustes de grandeza e de partir à descoberta do nosso mais profundo ser, na aventura de existir sublimatoriamente.
Continuamos incapazes, somos incapazes e estremecemos!
Cristãos, preferimos o comércio com a nossa mediocridade egoísta, com as nossas ligeiras satisfações, com as nossas curtas ambições, com o azedume amargo das nossas frustrações; instalamo-nos no álibi de não podermos pretender ser Ele, o Cristo.
Mas Francisco de Assis, não o Cristo, um de entre nós, despojou-se um dia de todas as suas vestes, partindo com uma nudez porventura simbólica para a odisseia de uma vida radicalmente ofertada, consagrada à humanidade, à natureza, a Deus. E ficamos então nós próprios, todos os crentes, todos os descrentes, subitamente de alma desnudada, porque já não há álibis.
2.
Francisco tinha nascido na cidade de Assis no ano de 1182, filho da dama Pica, uma senhora nobre da Provença, e do abastado comerciante Pietro di Bernardone. Fora um estroina, um poeta ligeiro, um rapaz rico e prometido a uma carreira fácil e compensadora; depois sentira-se marcado, como tantos jovens da sua geração, pelos ideais da época, a cavalaria e as cruzadas. Fizera a guerra contra Perugia, em defesa da sua terra natal, e aí ficara prisioneiro durante cerca de um ano, entre 1202 e 1203. Mais tarde partiria com um grupo de amigos ao encontro do capitão Ganthier de Brienne, cujas forças lutavam em Itália perturbada de então, sob a bandeira do Papa. A sua intenção era ser armado cavaleiro, mas no caminho para Roma teve uma iluminação que iria marcar e modificar para sempre a sua vida. Foi a visão de Spoletto.
Aí teria ouvido uma voz que o interrogou assim:
- Diz-me, Francisco, porque trocas tu o mestre pelo servidor e o príncipe pelo vassalo?
- Que devo fazer?, perguntou. Ao que a voz respondeu: Regressa à tua pátria, ser-te-á dito o que deves fazer…
A partir de então, Francisco caminha pouco a pouco, mas com a determinação de um místico, de um iluminado, para a assunção total de Cristo em si, levada ao extremo de uma recusa de todos os bens, de todos os confortos, de todas as actividades que não de oração, de dádiva, de serviço total de Deus, procurado e encontrado, não como no pietismo ou no misticismo indiano por uma identificação vertical e por uma reclusão ascética na casa do eu e na procura do nirvana, mas antes no grande teatro do mundo, junto dos homens, dos animais, e da natureza, em acção exemplar de fraternidade e de amor sem limites.
Pede esmola para viver. Abraça os leprosos, Trabalha sozinho na reconstrução da Igreja de S.Damião.
Come os restos que lhe dão por caridade Andrajoso, é troçado e humilhado pelos garotos de Assis. E através desta imersão dia a dia mais segura e mais convicta na imensa chaga aberta da humanidade sofredora, descobre não o cansaço, não a fome, não o desânimo, não a hesitação e o medo, mas a alegria, uma alegria fresca e nova, uma alegria de criança, uma alegria de água pura que o retempera e lhe dá forças para continuar na simplicidade de um destino necessário, diríamos mesmo do único destino gratificante para a sua alma ansiosa de absoluto.
Dá-se a bem conhecida crise com o pai que, irritado, enfurecido, julgando-o louco e irresponsável, o fecha numa cela a pão e água, para mais tarde, depois de uma fuga (libertado pela Dama Pica), o acusar judicialmente, dirigindo-lhe acusações iradas e intransigentes.
É então que, em pleno tribunal, Francisco lhe retribui tudo quanto dele possui ainda, incluindo as vestes que usa.
Completamente nu, perante os juízes e o público, fala-lhes com uma serenidade e uma convicção impressionantes:
- Escutem o que tenho para dizer! Até aqui chamei pai a Pietro di Bernardone; mais eis que agora lhe devolvo o seu ouro e todos os trajes que me deu; por isso, já não voltarei a dizer: o meu pai, Pietro di Bernardone, mas antes: Nosso Pai, que estais no Céu!
Francisco parte então, cortados todos os laços com o passado, com a família e com o mundo da sua juventude tão próxima ainda, ao encontro do seu prodigioso destino. Não é por uma doutrina teológica, mas pela experiência de uma vida singular, que vai nascer o ideal franciscano da vida, dando um novo rumo à Igreja de Cristo e à própria história dos homens pela sua aliança de misticismo, altruísmo e acção.
São demasiadamente conhecidos os passos da sua caminhada, para que valha a pena repeti-los.
Os primeiros discípulos, a fundação da Ordem, as pregações, os trabalhos quotidianos, as dissenções internas, as viagens, as vigilas, os estigmas, nada se pode resumir em poucas palavras, mas tudo foi heroicidade e coragem, santidade e determinação, ascetismo e no entanto um dinamismo incansável; tudo foi exemplo e tudo foi mensagem ao futuro que somos e seremos. No oitavo centenário do seu nascimento, é uma mensagem insólita, mas que permanece intacta. Uma interpelação que ainda tem poder para nos instabilizar, para nos chocar e para nos desafiar.
Tudo foi fecundo e por isso tudo continua vivo, na existência de Francisco de Assis: até à sua morte. De facto, a poucos dias de morrer, meio cego e atingido por enormes sofrimentos físicos, ao ser-lhe anunciado pelo médico, nesse ano de 1226 (tinha apenas 44 anos) que não podia viver mais do que até Setembro ou princípios de Outubro, S.Francisco (seguimos as páginas clássicas de Joergesen), ficou uns instantes silencioso, mas logo, levantando as mãos para o céu, exclamou: “Sê bem-vinda, minha Irmã Morte”. E depois, como se as palavras tivessem reaberto a fonte poético do seu coração, acrescentou uma última estrofe ao “Cântico do Sol”: “Louvado sejas tu, meu Senhor, pela nossa irmã, a Morte corporal, a que nenhum homem vivo pode escapar…”.
3.
A interpretação de Francisco de Assis foi tão poderosa, que o próprio pai e muitos dos seus contemporâneos preferiram considerá-lo louco. Leonardo Coimbra, que dedicou ao Poverello alguns dos mais penetrantes e luminosos textos que sobre ele se escreveram entre nós, chamou-lhe o louco de Assis, mas para significar que: este louco de Assis é como o louco de Tarso, como os mártires de Roma e de Lião, um contagiado na infinita “Loucura da Cruz”. O contagiado contagia e eis que em Francisco de Assis se reacende a virulência da loucura, e ele é a fonte de um imenso Oceano ainda hoje em tumultuante loucura, que é o franciscanismo. Esse louco não conhece limites, quebrou os muros de bom senso e das conveniências sociais, se será como um vendaval de insensatez varrendo as almas…
Mas esta loucura, sugere o filósofo português noutro lugar, é como que a face adulta da inocência. Francisco de Assis é o homem que vive com inocência e que por isso surpreende toda a criação divina na sua transparência virginal, na raiz ôntica em que desaparecem as diferenças entre os seres vivos e mesmo os seres inanimados.
A teleologia franciscana visa efectivamente, não apenas a salvação dos homens, mas também a redenção da natureza e de todas as criaturas de Deus. O mundo deixa de ser um cenário, onde evolui o protagonista único e isolado do poema escrito por Deus, porque a totalidade dos seres visíveis e invisíveis participa do mesmo movimento escatológico. Torna-se mais humilde a posição do homem, mas ao mesmo tempo com S.Francisco, ressalta a sua grandeza, porque só ele, entre todas as criaturas de Deus, é capaz de ser e ao mesmo tempo de amar para além da barreira da sua própria condição e natureza. As imagens de S.Francisco falando às aves ou do seu discípulo Santo António falando aos peixes impressionaram e continuam a impressionar poderosamente o nosso egoísmo e o nosso antropocentrismo.
Com Giotto, pintor franciscano, a natureza deixa de ter uma representação convencional, pois as suas árvores, as suas pedras, os seus regatos, os seus rebanhos de ovelhas adquirem a consistência e a textura que tinha sido esquecidas pelos pintores góticos e bizantinos.
S.Bento, S.Bernardo, S.Francisco conduziram, cada um a seu modo, os mais belos e influentes movimentos de purificação da Igreja de Cristo. Sem menosprezo para outras Ordens, vocacionadas para diferentes fins, Beneditinos, Cistercenses e Franciscanos deram-se as mãos para realizar em si próprios e em seu redor a pureza restituída da mensagem evangélica. Os últimos trouxeram porém inovações surpreendentes, como o alargamento ôntico do ideal cristão da fraternidade, o dinamismo de um amor completamente despojado dos bens materiais e enfim uma ideia por assim dizer menos “eclesiástica” da Igreja de Cristo, na maior confiança posta no homem bom, no leigo dedicado, a quem S.Francisco atribuía uma dignidade quase sacerdotal e para quem criou a Ordem Terceira.
4.
A sensibilidade franciscana é sem dúvida um dos elementos componentes da alma portuguesa. Por uma dessas coincidências ou acasos que evidentemente não o são, há uma contribuição lusa, quase desde a origem, para a formação do ideal franciscano: é a acção extraordinária do primeiro doutor da Ordem, "nas suas três manifestações características: teólogo na cátedra, pregador no púlpito e missionário no mundo". Referimo-nos evidentemente a Santo António de Lisboa que, percurso e o primeiro de uma plêiade de teólogos, de filósofos e de doutores franciscanos de génio, como S.Boaventura, Duns Escoto, Raimundo Lúlio, S.Bernardino de Siena ou Rogério Bacon, terá sido, na expressão do Prof. Joaquim de Carvalho, "o teórico do espírito franciscano e o segundo fundador da Ordem".
A ordem dos Frades Menores entrou aliás em Portugal, apenas meia dúzia de anos após o início do apostolado de S.Francisco, proliferando imediatamente os conventos franciscanos "nas cidades e vilas mais importantes do país".
Como disse o historiador Gama Barros, "o progresso da Ordem Terceira foi espantoso, entrando nela, a bem dizer todas as classes, sem exceptuarmos rei e príncipes".
Uma tal predisposição, um sentimento e um conceito tão rapidamente aceites pelo Português, revelam sem dúvida a existência anterior de arquétipos afins e mesmo de tradições culturais e religiosas de sinal próximo.
Sem trazer para aqui raízes mais arcaicas, podemos considerar que o ora et labora beneditino abriu efectivamente um caminho, reforçado pela poderosa influência de S.Bernardo e dos cistercenses a partir de Alcobaça. Todavia mais profunda marca se pode detectar desde cedo na grande e irrecusável matriz cultural que é a Língua.
Anotou Jaime Cortesão que a língua portuguesa é "lírica, franciscana, repassada de ternura e piedade", e que "nenhuma outra é mais rica de diminutivos carinhosos. Duma criança diz-se quase sempre uma criancinha; de uma mulher idosa, uma velhinha; e aos pobres dá-se-lhes logo esmola, chamando-lhes pobrezinhos. Já na Crónica dos Frades Menores, do século XIV, se chama assim aos pobres".
E os diminutivos amoráveis e franciscanos da língua lusa são aplicados também a estados de alma, a horas do dia e da noite, a sentimentos imponderáveis, porque nascem de um amor orientado para todos os modos de ser... Jaime Cortesão lembra no mesmo texto que o português "do crepúsculo matinal dirá manhãzinha; e quando a tarde cai ou a noite se ensombra, a tardinha ou a noitinha".
A lista poderia ser mais alargada: quem sofre é um coitadinho, se é um animal, é o pobre bichinho; a ternura por alguns santos crisma-os de santinhos, tal como o severo Santo António se tornou o Santo Antoninho.
Francisco da Cunha Leão, o autor do O Enigma Português e de Ensaio de Psicologia Portuguesa, escreveu aquele livro que "a religião dos portugueses é vivida mais franciscanamente pela ordem da natureza e do amor do que pelo militantismo como na demais Espanha - avesso que o ocidente se mostra a tudo quanto é rígido".
Na empresa histórica mais significativa da acção portuguesa na ecúmena, dos descobrimentos, o franciscanismo teve lugar relevante, precisamente porque era desde há muito um dos principais elementos da infra-estrutura psíquica e cultura nossa.
E teve-o antes de mais, não só em abstracto pelo seu amor à natureza, pela sua vocação caminheira e vagabunda, pelo seu apostolado de apetência ecuménica, mas também em concreto pela obra teórica de alguns percursores cuja influência terá pesado talvez na própria ideal original da empresa. Jaime Cortesão assinalou que o famoso pensado Raimundo Lúlio (1234-1314), "o Doutor Iluminado, natural da ilha de Maiorca, e o tipo por ventura mais perfeito do proselitismo franciscano preconizou em obras sucessivas o ataque e conquista dos Estados muçulmanos desde Ceuta até ao Levante, e foi o primeiro, segundo Beazley, a sugerir o plano de circumnavegar a África para alcançar a Índia".
O mesmo historiador escreveu que o franciscanismo constitui "a mística dos descobrimentos", querendo significar com esta expressão o complexo das nossas tendências espirituais, que incorporam a expansão geográfica a um pensamento e a uma ética religiosas, eliminando assim a contradição inibitória que existia entre as necessidades económicas e os postulados da religião".
É certo que Jaime Cortesão, na sua teoria da história portuguesa, minimizou ou esqueceu mesmo o papel preponderante da Ordem de Cristo, na concepção espiritual do ecumenismo luso, mas é inegável que a presença dos frades menores nas nossas caravelas, simbolizando o lugar do cristianismo franciscano na estrutura cultural e intelectual portuguesa, contribuiu, escreveu com acerto, para "uma consciência nova da espécie, preparando uma nova fase, em que os povos iam aproximar-se e desenvolver-se pela economia, mas evoluir, unificar-se, exaltar-se como humanidade.
Na verdade Portugal ao dar as mãos aos continentes e às raças, realizou um acto de criação livre e universalista".
O poderoso sopro universal que, nascido da obra de S.Francisco de Assis, trouxe dimensões inéditas ao cristianismo e ao mundo, inspirou ou sugeriu movimentos purificatórios, por vezes radicais como o dos "espirituais" ou o dos "fraticelli", de influência notória em Aragão e em Portugal. Por outro lado, muitos franciscanos foram tocados pelas doutrinas do cistercense Joaquim de Flora, que proclamou o Evangelho Eterno e o advento da Terceira Idade, a do Espírito Santo (que sucederia à Idade do Pai e à do Filho, de algum modo matizando ou atenuando o extremismo de muitos joaquimitas, embora aceitando algumas das suas premissas.
O pensador Agostinho da Silva, desenvolvendo algumas pistas desbravadas por Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, expôs em diversos livros e ensaios como Reflexão, As aproximações ou Um Fernando Pessoa, uma original filosofia da história, de raiz franciscana e joaquimita, apontando um lugar simbólico da nossa experiência ecúnemica num vasto movimento de civilização ainda em curso. Alguns dos seus discípulos brasileiros basearam-se neste pensamento para fundamentar a teoria da história da grande nação sul-americana de língua portuguesa.
5.
Não é qualquer pessoa, a qualquer hora, repetimos, que tem o direito de escrever sobre S.Francisco de Assis. Grande ousadia cometemos na verdade, ao fazê-lo mergulhados até ao fundo no grande vazio espiritual da existência moderna. Presos à teia de múltiplas existências quotidianas, evocámos o Poverello não em meditação profunda, mas num trabalho intermitente de escuta, simpática para com a figura exemplar, é certo, mas prejudicada pela brevidade das notas que aqui deixamos, em modesta contribuição para o volume comemorativo do oitavo centenário do seu nascimento.
Deste sentimento de fracasso perante as nossas capacidades de compreensão plena de um ser humano paradigmático, não apenas de uma época e de um ideal, mas sobretudo das tendências mais generosas do espírito humano, surgiu-nos esta interrogação: será ainda possível, na época actual, a prática do cristianismo, tal como a viveu e prego S.Francisco? O franciscanismo será viável no tempo da burocracia, da cidade tentacular, dos meios de comunicação de massa, de um mundo persistentemente conflitual, do mercado e da grande indústria, da educação ateísta e agnóstica, da tecnologia avançada, do indiferentismo social perante o outro?
Para S.Francisco a grande renúncia é sempre um acto livre e individual. A natureza aberta é o terreno de eleição deste ascetismo activo. A vida é risco, é aventura, é dádiva, é sacrifício, é alegria pura do ser sem o ter e sobretudo sem o querer ter... É por outro lado fé e graça, e diálogo com uma transcendência que não se procura porque nos envolve e nos ilumina.
Eis o que hoje, aqui, nos toca e move, mas com um sabor de utopia, quando não de quimera:
E todavia...
E todavia a vida flúi, e esse mundo espiritual que atrás brevemente apontámos é uma realidade em aparência evanescente, mas é talvez ainda uma experiência saudosa, uma prova atraente pela sua mesma dureza, um desafio lançado à humanidade.
Na miséria deste mundo - e no conforto deste mundo, em todas as situações deste mundo - o homem é sempre o homem, um ser mistério-interrogativo do seu destino, vocacionado para a morte e nunca totalmente distraído da incompletude e da frustração da sua personalidade satisfeita.
Há uma embriaguez tecnológica que ainda não deixou. Há uma ilusão sociocrática que ainda não perdemos. Há um materialismo sem sentido que ainda não enfrentámos. Há um voluntarismo doentio de que ainda não nos libertámos. Há uma preguiça espiritual que ainda não suportámos. Há mil formas de esperança deslocadas do verdadeiro eixo do ser mais autêntico, de que ainda não acordámos.
Nada se repete na existência longa e multímoda do homem. Mas a criação é um continuum sem intervalos de nada ou de vazio.
Talvez que, depois do grande desencanto que aí vem, possamos reter de S.Francisco o mais profundo da sua mensagem: a capacidade de coragem para escolher com decisão até às últimas consequências entre o que luz mas é o acessório e que se esconde mas é essencial. Entre a positividade exterior das coisas e o mistério do ser patente e recôndito, que é Deus..."
António Quadros
(1982)
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