sábado, 11 de janeiro de 2014

Hoje que somos o futuro nebuloso


"A filosofia autêntica, aquela que nada recusa na sua infinita apetência de sabedoria, aquela que não despreza um sinal, por mais inaudível, aquela que não passa ao lado de um caminho, por mais perigoso, aquela que não desvia os olhos de uma possibilidade, por mais ingrata aos prestígios  da época, a filosofia autêntica reclama o direito de exceder o facto, a experiência, a razão, a ideia, o conceito, o próprio homem, cuja assunção física e metafísica permanece aquém da sua substancial realidade. (...) Mas compreende-se perfeitamente hoje, hoje que somos o futuro nebuloso em que os positivistas há cem anos confiavam, que determinados fenómenos não podem ser apreciados como factos, escapam a toda a tentativa de legislação e muito menos podem ser repetidos e desmontados por experiência de laboratório. A maioria das essenciais interrogações da filosofia, desde a origem da vida até ao fim da existência, não obtiveram da ciência positiva senão respostas que revertem de novo ao a priorismo metafísico e idealista e são defendidas ou impostas pelos seus adeptos por formas que têm quase todos os atributos da crença ou mesmo da fé. (...)"

António Quadros 
"O Ideal português na filosofia" 
em O que é o ideal português, Edições Tempo (1962) pp.27-28

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