domingo, 12 de janeiro de 2014

Um céu assim mais lento



Ensoneto

Entretanto, meu filho, é vinho tinto,
erosão persistida, abraço baço.
Lumes novos, quem é que os inventa
melhor do que o calor que nós nos damos?

As uvas, pois. O mais é uma cadeira
e o olhar do céu com chuva ou não,
enquanto as aves fogem e nós as imitamos
quase sem dor nem arte - só sentidos.

Assim sossega, assim verdeja e está,
eructa e vê, olhando à transparência,
um céu assim mais lento.

Só depois te levantas, e contigo
vai certeza nenhuma, só viver
outra vez, amanhã, a vida mesma.

Pedro Tamen
antologia provisória, Limiar, (1983), p. 101

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