"Um trabalho que se oponha ao recreio não é verdadeiramente trabalho, é «criação de fadiga». Para evitar a fadiga no trabalho moderno dá-se ao artífice a categoria de «especialista» e habitua-se o trabalhador ao seu trabalho. Mas um trabalhador habituado não é um trabalhador, mas um candidato a máquina. O homem e a máquina são duas tendências inevitáveis do mundo moderno: há homens que se pretendem libertar da máquina que os domina em qualquer aspecto da vida social e há homens que se pretendem libertar do homem que neles cohabita. Um trabalho em recreio, outro em escravidão.
O poeta é um dos extremos desta oposição. E Holderlin é de todos os poetas talvez o que mais se afastou do extremo oposto. O poeta recreia-se no seu mundo de imagens e a poesia é por isso «a mais inocente das ocupações». Poesia é um sonho verbal, é um recreio em palavras. E a sua substância é sempre e só o domínio verbal. (...)"
Delfim Santos
Revista de Portugal, nº4, 1938
via Homo Viator
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