"Não me parece que no futuro cultural do Brasil a filosofia, tal
como a entendemos até hoje, venha a ter uma grande importância,
possivelmente porque há uma íntima contradição entre os seus objetivos
e os seus métodos; de fato não se pode fazer filosofia como tanta vez
se tem tentado, com o resultado de se produzir apenas literatura e da
pior, sem métodos rigorosamente discursivos, em que sempre intervém
como peça fundamental a distinta existência dum sujeito e dum objeto;
mas a meta última de um verdadeiro impulso filosófico, como doutrina
de compreensão ou doutrina de salvação, é a de se atingir um estado
em que se apresente uma última realidade não dicotômica na qual nos
incluamos, ou ela nos inclui a nós; por outras palavras, procuramos um
sujeito ou pelo menos um ser em que se fundam sujeito e objeto, o que
significa que há um ponto além do qual é impossível avançar em filosofia
por métodos filosóficos; e aqui aponta, por um lado, o misticismo, por
outro a filosofia apenas vivida, não sistematizada, que tem sido
característica da nossa gente comum. (...)"
Agostinho da Silva
Espiral, Ano III, n.os 11-12, Lisboa, 1966
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