"O que, porém, sucede, é que se entretêm
demais os artistas, e nada julgam ser se o não fizerem, com filosofias
que apenas têm como origem o não se saber, o não se pensar e o não
se querer; esteticismos de sobremesa substituem o rancho de trabalhar
e produzir; nas conversas de sociedade de bom tom se diluem os
caracteres que só o silêncio e o isolamento poderia dignamente martelar; toma-se o tranquilizante para afastar angústia que tão bem-vinda seria
como sinal de Deus; bebe-se porque se está triste, não para celebrar a
alegria; ninguém mais sabe estar de pé ou andar a pé: cadeira e
automóvel se redesenham, se aperfeiçoam; e a multidão dos fracos é
cada vez de tentação maior para o domínio dos ousados sem escrúpulo (...)"
Agostinho da Silva
Espiral, Ano I, n.os 4/5, Lisboa:
Tipografia Peres, 1964-1965, p. 24-36
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