"No entanto, basta que o observador, pondo de lado os livros
das bibliotecas eruditas, e os quadros dos museus ou exposições
eruditas, e as reuniões dos homens eruditos, que com tanta frequência
se exportam ao estrangeiro, viaje pelo interior de Rio Grande ou Minas
ou atravesse os sertões do Nordeste e se demore com alguma atenção
no estudo daquela gente que um dia alimentou o Brasil, ou lhe deu as
primeiras bases daquele barroco que é apenas um dos aspectos de um
maior barroco atlântico tão demorado em surgir, ou afirmou em
Canudos, morrendo, o seu direito a originalidade, basta o conhecimento
embora ligeiro daquele Brasil que se recusa a julgar seu destino, esperar
no cais o último e louco ditame de além-mar, para entender como está inteiramente errado o Brasil que os estrangeiros conhecem e, por outro
lado, para perceber como assenta em bases inteiramente brasileiras
uma literatura como a de Mário de Andrade ou uma arquitectura que,
no melhor, já vai unindo a abstracção e o barroco. (...)"
Agostinho da Silva
57, Lisboa, n.º 5, setembro de 1958
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