quarta-feira, 30 de março de 2011

«Espaço Mortal» de Afonso Cautela


"Assim Afonso Cautela escreve como um crucificado, olhando do alto do seu calvário o movimento caótico e incompreensível dos seres humanos separados, hostis, repulsivos. [...] A poesia, poesia rigorosamente de «espaço mortal», reflecte as mesmas coordenadas. Tudo o que existe macula a liberdade interior: por isso a existência aparece ao poeta como luta – a cada instante – de vida ou de morte num espaço restrito e prisional. Magoado ou ofendido ou humilhado ou irado, o poeta responde com o gume dos seus versos – mas talvez o mais ferido resulte ele mesmo. O amor oferece-se-lhe sem dúvida como bálsamo: porém, julgamos que na poesia surge mais como aspiração do que como iniciação, quer dizer, situa-se mais no plano da alma do que no plano do espírito."

António Quadros
Jornal «57», Nº 9, Setembro de 1960, p.9

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Afonso Joaquim Fernandes Cautela nasceu em 1933 em Ferreira do Alentejo. Professor do ensino primário e jornalista, foi ainda funcionário público, livreiro e bibliotecário das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian em Tavira e Cuba do Alentejo.
Publicou três livros de poemas: Espaço Mortal (1960), O Nariz (1961) e Campa Rasa (2011). Organizou, com Serafim Ferreira, a antologia Poesia Portuguesa do Pós-Guerra (1965), publicou com Vítor Silva Tavares e Rui Caeiro Poesia em Verso (2007) e com Liberto Cruz uma recolha antológica do poeta Raul de Carvalho: Poesia – 1949-1958 (1965). Editou ainda dois números dos cadernos Zero: «A falência do neo-realismo» e «Líricas Maiores e Menores» e fez parte da antologia Surreal-Abjeccionismo, organizada por Mário Cesariny.
No domínio do ensaio, destaque para Depois do Petróleo, o Dilúvio (1973),  A Indústria do Ruído (1974), Contributo à Revolução Ecológica (1976) e Ecologia e Luta de Classes (1977). Tem colaboração dispersa na imprensa, nomeadamente nos jornais A Capital, O Século57 (1957-1962), (dirigido por António Quadros) e n' A Planície (1952-1964).
Durante os anos 70 e 80, colaborou na campanha ecologista, tendo fundado em 1974, com cinco amigos, a associação Movimento Ecológico Português. Entre 1974 e 1980, publicou o jornal Frente Ecológica, do qual saíram 15 números. Durante 12 anos, manteve uma crónica semanal de temas ecológicos, com o título «Crónica do Planeta Terra» no diário vespertino A Capital, onde coordenou também uma secção semanal intitulada «Guia do Consumidor». Neste período coordenou ainda a Colecção "A par do tempo", da Editorial O Século. Desde 1992 que se empenha no estudo e prática da Gnose Vibratória, criada em França por Étienne Guillé.

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