"José Lins do Rego, escritor nordestino, da Paraíba, foi e continua a ser um dos romancistas brasileiros mais apreciados em Portugal, onde estão editados quase todos os seus livros. Não poderemos considerá-lo um autor regionalista, porque procura dar e dá a visão em profundidade da paisagem humana, social e física do Nordeste, quer no sentido da sua identificação, quer num sentido psicológico, sociológico e ético, nunca cedendo à tentação, comum nos anos trinta e quarenta, de fazer literatura de subordinação ideológica ou política.
De entre os seus melhores romances (...) Pedra Bonita avulta como um dos mais poderosos, senão o mais radical e profundo no esboço das suas figuras de tragédia, embora num contexto aventuroso, épico e místico. Tem continuação em Cangaceiros, mas agora antes com acentuação no tema do cangaço onde se misturam o crime, a vingança, o carisma heróico do bandido, um código de honra, a violência desapiedada, a luta do bem e do mal, o ódio e também por vezes a força de sentimentos recalcados como o amor filial ou fraternal, pois Domício, o tocador de viola, irmão de Bentinho, um dos fanáticos da Pedra, acabou por juntar-se ao chefe dos Cangaceiros, o seu outro irmão, Aparício. Pedra Bonita não narra propriamente os episódios de 1838, atrás citados. É sobretudo o romance do destino implacável, do fado inescapável, do mythos trágico no sentido grego. Se o mito sebástico fora até aqui patriótico, entre saudosista e profético, simbólico de uma esperança ou de uma aposta no maravilhoso, de um dinamismo messiânico, embora onírico, mas representativo de um pathos nacional, Lins do Rego ergue, com o seu António Bento, uma figura de tragédia sertaneja, segundo o arquétipo das personagens de Ésquilo e de Sófocles. (...)"
António Quadros
Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista (1983) p. 202
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