quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
António Quadros sobre o Caranguejo de Ruben A.
"O leitor não deixará de ficar impressionado perante certas páginas em que a sátira é mais violenta, em que tamanha lucidez no delirio das palavras e das ideias. E, deixemos aqui a seguinte legenda: estamos em presença de um romance que, mais do que qualquer obra que tenhamos lido nos últimos anos, corrobora dolorosamente a necessidade urgente de uma profunda reforma educativa."
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Sobre António Quadros, texto de Pedro Calafate
Foi um dos principais impulsionadores da geração do "57", impulsionado pelo magistério de Álvaro Ribeiro, e por isso fortemente empenhado na formulação de uma «filosofia portuguesa».É pois relevante a leitura do manifesto do grupo reunido em torno da revista 57, de que António Quadros foi director. Aí se indicam as chamadas «enfermidades» da cultura nacional, analisadas na base de um muito claro comprometimento com uma «filosofia da pátria». Como causas da referida doença nacional elegem a influência exagerada de correntes estrangeiras, com os seus vários «ismos», fossem elas o escolasticismo, o positivismo, o racionalismo ou o marxismo, embora com uma significativa excepção aberta para o caso do existencialismo.Esta excepção é relevante porque para António Quadros e de um modo geral para o «grupo da filosofia portuguesa», aqueles vários «ismos» impunham um universalismo sujeito à ideia de «mesmidade», esvaziando o heterogéneo em favor do homogéneo. Nesta base, a atenção dada por António Quadros ao existencialismo, para o qual fora sensibilizado pelo seu mestre Delfim Santos, na Faculdade de Letras de Lisboa, tinha menos a ver com o seu acolhimento e difusão em bloco, pois que recusa a ideia sartreana de uma moral sem Deus, do que com o que no existencialismo se abria como possibilidade de atenção ao concreto, ao homem concreto e singular, «esse desconhecido», levando-o a defender, em Introdução a uma Estética Existencial, que o conceito de existência se deveria assumir como primitiva categoria do ser.Daí que tanto o existencialismo como a «filosofia portuguesa» lhe parecessem meios privilegiados para conduzir ao florescimento da nossa raça. Como pano de fundo, vislumbra-se a questão das filosofias nacionais e o valor da filosofia portuguesa, portadora dos valores futuros, muito na linha de Álvaro Ribeiro, que em vez da relação hegeliana entre o ser e o não ser, preferia a relação mais aristotélica entre a potência e o acto, sendo a potência a categoria do possível, donde emergia a tentação do profetismo e do messianismo. Não que para António Quadros a verdade possuísse fronteiras, mas sim que a filosofia, por ser via e caminho, as teria certamente, não tanto físicas, mas sobretudo espirituais.António Quadros prosseguiu nesta linha de pensamento durante mais de três décadas, ligado ao que já alguns chamaram uma «patriosofia», desenvolvida em duas vertentes complementares: uma vertente estética, ligada à fenomenologia da arte portuguesa, com especial atenção ao que considerava ser a sua dimensão simbólica, como via de conhecimento indirecto do que de mais profundo e enigmático existe no homem, em linha prosseguida por Lima de Freitas e por Afonso Botelho (Introdução a uma Estética Existencial, 1954); e uma vertente orientada para a filosofia da história portuguesa, de feição escatológica, explorando as virtualidades do mito e da saudade como sua expressão sentimental (Introdução à Filosofia da História, 1982; Portugal Razão e Mistério, 1987; Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, 1982)Em ambos os casos, o que confere unidade à sua obra é o propósito de determinar uma razão de ser para Portugal, fundindo «memória de origens e saudade do futuro», um futuro que generosamente acreditava estar reservado ao advento do Espírito Santo, assumindo-se aí Portugal na sua teleológica razão de ser, agente principal de um projecto aureo de realização espiritual da humanidade (Portugal, Razão e Mistério).A abertura a estes domínios do simbólico em estética e do mitológico em história, participava também da recusa de um racionalismo estrito, defendendo antes uma razão que se não pode desligar da consideração dos diversos graus da experiência do ser, mesmo aqueles que se afiguravam anteriores à lógica e ao conceito, atendendo por isso ao lugar do mistério e do enigma.
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Pedro Calafate
Pessoa e o Orpheu
"É-nos difícil, hoje, termos uma noção exacta do que o Orpheu representou. Talvez que o mais fiel documento desse período seja o artigo de evocação que o fino e inteligente humorista que foi Augusto Cunha, amigo de Mário de Sá-Carneiro e cunhado de António Ferro, escreveu para a revista Atlântico, em introdução à sua página «Um serão paulista» (contemporânea aliás ao lançamento do paulismo). Vale a pena transcrever ao menos um excerto.
As mais audaciosas e estranhas produções, umas propositadamente excessivas na forma e no conceito, outras premeditadamente exageradas no seu destrambelhamento, preconcebidamente irritantes e ofensivas da rotina e dos cânones literários então correntes, nasceram desse movimento irreverente e iconoclástico que perturbou a tranquilidade até aí gozada na pacifica pacatez do nosso meio literário, irritou os críticos e provocou a indignação do grande público, habituado ao lirismo ingénuo e calmo e ao romantismo dos folhetins.
Com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, constituíam os mais assíduos elementos do grupo: Luís de Montalvor, Pedro de Meneses, Almada Negreiros, José Pacheco e António Ferro, que foi o editor do «Orpheu», apesar dos seus 19 anos - idade em que legalmente o não podia ser.
Por vezes, no «Martinho», apareciam também Santa Rita Pintor, chegado havia pouco de Paris e de quem se contavam as mais estranhas blagues, as mais sensacionais boutades, os mais espirituosos ditos.
Já a sua figura, no meio apagado e morno do café, fazia sensação. O seu ar fúnebre emergindo do fato preto, a sua figura esguia e angulosa, o colarinho muito largo e direito, meio coberto por um laço também preto, o chapéu negro enterrado na cabeça rapada à navalha, o próprio galgo hierático, que o acompanhava e ficava em atitude submissa junto da mesa onde ele se concentrava a encher largas tiras de papel, davam-lhe um aspecto estranho, quase irreal, naquele ambiente banalíssimo e burguesmente pacato do café.
A ideia de uma revista literária de novos moldes e novos ritmos, no propósito de «formar, em grupo ou ideias, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte», partira de Luís Montalvor e de Ronald de Carvalho que no Brasil tinham projectado criar uma publicação - «Orpheu» - destinada a provocar uma renovação do gosto e a reunir novos desejos e características de arte e de beleza.
O primeiro número da revista, em cuja introdução Montalvor explicava os propósitos e intenções de «Orpheu», foi, para o grande público, a ruidosa e sensacional revelação da nova escola literária.
O poema «Os Pauis», de Fernando Pessoa, dera ao movimento o nome de guerra: - o Paulismo.
Nas longas conversas de café, nas digressões nocturnas pelas ruas da Baixa, discutindo em voz alta por forma a despertar as atenções e a curiosidade intrigada da multidão, os componentes do grupo tinham criado uma série de novas formas e de audaciosas expressões, procurando todos, numa estranha competição, exceder-se a si próprios e a cada um, em exotismos, em extravagantes conceitos e opiniões, nas mais imprevistas e complexas frases deliberadamente destoantes da vulgaridade corrente e, quase todas, com o principal propósito de irritar."
As mais audaciosas e estranhas produções, umas propositadamente excessivas na forma e no conceito, outras premeditadamente exageradas no seu destrambelhamento, preconcebidamente irritantes e ofensivas da rotina e dos cânones literários então correntes, nasceram desse movimento irreverente e iconoclástico que perturbou a tranquilidade até aí gozada na pacifica pacatez do nosso meio literário, irritou os críticos e provocou a indignação do grande público, habituado ao lirismo ingénuo e calmo e ao romantismo dos folhetins.
Com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, constituíam os mais assíduos elementos do grupo: Luís de Montalvor, Pedro de Meneses, Almada Negreiros, José Pacheco e António Ferro, que foi o editor do «Orpheu», apesar dos seus 19 anos - idade em que legalmente o não podia ser.
Por vezes, no «Martinho», apareciam também Santa Rita Pintor, chegado havia pouco de Paris e de quem se contavam as mais estranhas blagues, as mais sensacionais boutades, os mais espirituosos ditos.
Já a sua figura, no meio apagado e morno do café, fazia sensação. O seu ar fúnebre emergindo do fato preto, a sua figura esguia e angulosa, o colarinho muito largo e direito, meio coberto por um laço também preto, o chapéu negro enterrado na cabeça rapada à navalha, o próprio galgo hierático, que o acompanhava e ficava em atitude submissa junto da mesa onde ele se concentrava a encher largas tiras de papel, davam-lhe um aspecto estranho, quase irreal, naquele ambiente banalíssimo e burguesmente pacato do café.
A ideia de uma revista literária de novos moldes e novos ritmos, no propósito de «formar, em grupo ou ideias, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte», partira de Luís Montalvor e de Ronald de Carvalho que no Brasil tinham projectado criar uma publicação - «Orpheu» - destinada a provocar uma renovação do gosto e a reunir novos desejos e características de arte e de beleza.
O primeiro número da revista, em cuja introdução Montalvor explicava os propósitos e intenções de «Orpheu», foi, para o grande público, a ruidosa e sensacional revelação da nova escola literária.
O poema «Os Pauis», de Fernando Pessoa, dera ao movimento o nome de guerra: - o Paulismo.
Nas longas conversas de café, nas digressões nocturnas pelas ruas da Baixa, discutindo em voz alta por forma a despertar as atenções e a curiosidade intrigada da multidão, os componentes do grupo tinham criado uma série de novas formas e de audaciosas expressões, procurando todos, numa estranha competição, exceder-se a si próprios e a cada um, em exotismos, em extravagantes conceitos e opiniões, nas mais imprevistas e complexas frases deliberadamente destoantes da vulgaridade corrente e, quase todas, com o principal propósito de irritar."
António Quadros
Fernando Pessoa, Vida, Personalidade e Génio, pp. 78-79.
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Santa Rita Pintor
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
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