sexta-feira, 30 de novembro de 2007

António Quadros Ferro, neto do escritor, teve a gentileza de me comunicar hoje, dia 29 de novembro de 2007, a boa nova da atribuição do nome de António Quadros a uma rua de Cascais. Recebi o mail de António Quadros Ferro, em Brasília, por volta das 18:00 horas. A reação imediata que tive foi compor uma notícia em forma de verso e colocá-la em http:www.usinadeletras.com.br, site brasileiro onde colaboram cerca de 8.000 escritores, entre os quais muitos portugueses. Para que mais leitores tomem conhecimento da figura invulgar de António Quadros. Fui amigo e companheiro de luta de Antônio Quadros pela afirmação de uma filosofia Portuguesa, colaborador de sua revista "Espiral". Fui também um dos primeiros conferencistas do Centro Nacional de Cultura, a que ele estava ligado juntamente com Afonso Botelho, António Braz Teixeira e Orlando Viorino. Minha conferência no Centro Nacional de Cultura foi em 1955. Eis a íntegra da memória que coloquei para ele no site brasileiro: www.usinadeletras.com.br.


A RUA DE UM PRÍNCIPE DA CULTURA PORTUGUESA EM CASCAIS
João Ferreira 29 de novembro de 2007
Agora ele está ali, em Cascais,
Cidade bela e nobre de Portugal,
Numa rua que tem seu nome
Escritor António Quadros (1923-1993)
Silencioso
Majestático
Pronto para ensinar
Para moradores da rua e transeuntes
O que foi Portugal histórico, sua tradição
E modernidade cultural
Ele será patrono e titular deste espaço
Para ser lembrado como português exemplar que viveu intensa paixão de amor às letras pátrias

Como símbolo de luta pelas causas maiores portuguesas
Ficará ali como senhor de um reino de cultura que está arquivado no simples enunciado e lembrança de seu nome
Como senhor nobre
Que incessantemente buscou e espalhou pelos cantos do mundo o saber e a cultura
Desde os maiores mitos
Até aos vultos mais representativos da cultura Portuguesa do século XX
Será sempre lembrado como editor e divulgador de Fernando Pessoa e do modernismo português
Como pesquisador, e divulgador de Pascoaes e Agostinho da Silva
Como alto representante do movimento da Filosofia Portuguesa
Como fundador do movimento 57
E da revista Espiral
Como autor de muitos livros... A toda a hora, na Rua António Quadros Muita gente perguntará Querendo conhecer sua biografia
E outras tantas pessoas saberão responder
E glorificar
Este grande cidadão português
Saberão filiá-lo a António Ferro, seu pai
E a Fernanda de Castro, sua mãe
Dois titulares da Literatura e da cultura Portuguesa
E a uma nobre família culta
Onde há descendentes escritores
De nome nacional
E na história urbana de Cascais
A rua António Quadros
Ficará como um livro exposto
E à disposição para quem o quiser abrir
E exercer a cidadania da memória!

João Ferreira
Brasília, 29 de novembro de 2007
Rua António Quadros:

António Quadros morreu em 1993 e não em 1994, como a placa indica.
Erro já comunicado pela familia do escritor à Câmara Municipal de Cascais.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Rua António Quadros




Rua António Quadros já existe. É em Cascais, perpendicular à Rua Adelino Amaro da Costa.
Só tardiamente tive conhecimento do ciclo A Filosofia Portuguesa no Século XX dedicada ao movimento da filosofia portuguesa e, especialmente, a António Quadros. António Braz Teixeira foi o orador. Foi no passado dia 20, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

alguns livros, em casa de antónio quadros
(...)Era um farol na noite escura; e a noite tornou-se mais noite, desde que a Morte o levou.

david mourão-ferreira, sobre António Quadros

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Altas, altas asas, recolhidas,
um dúbio sorriso, uma expressão
de alegria serena, talvez de ironia,
talvez ainda de êxtase ou paixão,
não sei,
a própria face do enigma, como a esfinge,
não sei, que o tempo,
corruptor do símbolo e da pedra
altera ou finge
a palavra dita e silenciada.

Diogo-Pires-o-Moço te esculpiu,
o povo te esqueceu,
fecharam-te em Coimbra num museu,
porque esse que teu ser mediu
não do português uma clara existência quis fixar,
mas a perturbante essência libertar.

Escândalo o teu olhar de paz,
escândalo ontem e hoje a tua beleza intemporal,
escândalo o não pareceres Portugal
na aparência angélica que nos dás.
Olhamos-te, nós, os impacientes
olhamos-te, os saudosos, os furiosos,
porque tarda a hora de o sonho se cumprir,
porque em nossa volta, descontentes,
só vemos sonhos frustrados,
seres dilacerados,
o campo de Alcácer Quibir
ainda e sempre,
orgulho e corrupção,
coragem e miséria,
as guitarras, a traição,
a pátria dividida,
a pressa, a inteligência transviada,
El-Rei Dom Sebastião,o seu fracasso, a sua ilusão,
a morrer ainda, devagar,
por esse país fora,
nas cidades, nas aldeias, nas montanhas,
a morrer de luxo e de pobreza,
de vaidade, de tristeza,
de curtas ambições,
de poder desregrado,
de habitual monotonia,
a morrer em almas indigentes,
em espíritos carecentesde alegria criadora,
de entusiasmo, de amor,
Dom Sebastião a morrer dentro de mim
dentro de mim que somos todos,
nas nossas cruéis batalhas interiores
entre a visão radiante do futuro
e a realidade pesada e envolvente
do presente.

Mas altas, altas asas recolhidas,
a própria face do enigma, como a esfinge,
assim Diogo Pires te viu
e para o amanhã que é hoje te esculpiu…
Apostou na esperança, contra dúvida!
Apostou na confiança de que em breve
as grandes asas vão abrir-se porventura
e de que o corpo da pátria, leve, leve,
é ser das alturas que perdura,
apostou que o povo da aventura,
filho do mar,
pai da descoberta,
apostou que a nau fracta do ocidente
no tempo encontraria
a sonhada harmonia
dos seus poetas,
dos seus profetas,
e com clara certeza realizaria,
cedo ou tarde,
depois de quedas e infernos,
depois de abjecções e cobardias,
depois de se ter cindido
e consumido
na inveja, no ódio, na baixeza,
na sujeição, na descrença, na incerteza,
no culto dos eventos positivos,
na negação da própria alma futurante,
cedo ou tarde criaria
o quinto império do amor,
o quinto império do espírito universal,
senhor
da fraternidade enfim,
da justiça e liberdade
fundadas na verdade
que a razão inquieta demanda,
como nau de descoberta rumando ao horizonte
na aliança do leme e do mistério.
Ninguém morre na saudade e na memória,
o tempo que flui não é um grande cemitério
onde jaz sepultada toda a história.
A beleza do Anjo de Coimbra
é o que restada gesta.
A sua paz, o seu sorriso,
é o ser português, inteiro e puro
voltado para o futuro.

Ó Portugal,
teu ser no mundo é divisão,
teu ser em Deus é união,
mas o enigma do teu mito em acto
descobre-se no anjo que é o teu retrato.

AQ

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

"Sou a perdida unidade que a inteligência sozinha não pressente..."

Reflexões sobre o Escritor

O escritor não tem verdadeiramente um lugar na sociedade, e isso paga-o em humilhações sem conta. O trabalho intelectual é de todos o mais mal remunerado. As iniciativas dos intelectuais são acolhidas com sorrisos. Ficamos então irremediavelmente desonrados, perante uma sociedade que em última análise triunfa?

in, revista Espiral (1966)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007