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Carta de Amorim de Carvalho para Delfim Santos, 6 de Julho de 1947
Meu prezado amigo:
Antes de mais nada, quero agradecer-lhe a boa atenção com que leu o meu último livro e, não obstante as objecções que fez acerca do capítulo A crítica dogmática e cientifica, eu só tenho motivos para me sentir desvanecido pelas palavras agradáveis que se contêm na sua apreciação geral. A ideia de elaborar uma teoria da crítica conduz, desde há muito, o meu espírito, e os estudos que tenho publicado são, em grande parte, aplicações dessa teoria. Em vez de a formular abstractamente para, depois, à luz dos seus princípios, estudar as obras, eu tenho elaborado a teoria intimamente ligada com a prática ou exemplificação. Parece-me este um método muito fecundo e prudente, que me leva a pôr com mais segurança (segurança, aqui, é a minha convicção) os meus princípios críticos, submetidos à prova da realização crítica. E julgo até que no conjunto da minha obra já publicada (mesmo a que realizei como poeta) está posta já toda uma teoria da crítica nos seus aspectos fundamentais. Restar-me-ia, liberto das contingências criadas por esta ou aquela obra, aprofundar e ampliar esses aspectos fundamentais, corrigindo ou esclarecendo certos pormenores.
(...)
Não recuse o seu auxílio à Revista [Prometeu] que muito lhe ficará a dever. Aguardando, pois, a sua resposta a este respeito (e oxalá ela traga já um artigo seu), sou
amigo muito grato e admirador
Amorim de Carvalho