segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Sentido, lógica...justificação?


‎"Reencontrará o Estado português o seu sentido, a sua lógica e a sua justificação? (...) Terá a grandeza de estimular discretamente e sem exigências de pagamento os nossos pensadores e personalidades criadoras, em vez de os marginalizar por razões políticas, universitárias ou outras?"

 António Quadros

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ser português é uma filosofia

"Compreendi que, para pensar a existência, devia assumir e desposar os modos de existência que me eram próximos e palpáveis. Ser português era a categoria metafísica da minha raiz. A partir daqui cresceria a minha árvore ou outra opção não teria senão o destino de líricos ou historiadores que vem sendo fado de tantos dos que entre nós se dedicam ao pensamento.
(...) Ser português é, desde logo, uma forma de comunicação do homem com o mundo. Ser português é um pensamento. (...) É uma filosofia. (...)"

António Quadros
"A Cultura Portuguesa perante o Existencialismo"
em Sartre e o Existencialismo de Ismael Quiles
(Arcádia, 1959), pp. 30-31

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Será ainda o transporte do coração

"Se é um salto no vazio, será ainda o transporte do coração, onde em amor e saudade vivem todas as realidades que deixou, é a partida da memória, que guarda todas as imagens do real e será sempre, e pelo menos, a sua vida de lembrança, o seu exílio de saudade.
Mas os que, de olhos fechados, se abrigam de pronto no regaço divino, só poderão levar na rasgada pupila de sua memória o inútil esforço de povoar a irremediável solidão, donde fugiram. (...)"

Leonardo Coimbra
A Razão Experimental (1923) p.13

Como o desaparecimento da vida

"O que é a consciência que se afirma no juízo, se liberta na memória e aparentemente se apaga como o desaparecimento da vida em que se insere?"

Leonardo Coimbra
A Razão Experimental (1923) p.376

Tanto desconhecido

"Tanto desconhecido carregando no pensamento sonhos de ambição ou de humildade, como na minha pátria, como no resto do mundo, e, para lá dos sonhos de superfície, a mesma consciência religiosa de se ser homem e querer amar e entender a vida (...)"

Leonardo Coimbra
A Razão Experimental (1923) p.13

domingo, 9 de setembro de 2012

"O mito coloca-nos na atitude espiritual correcta."

"No discurso popular, o mito é normalmente entendido como mentira. Um político, se for acusado por um pecado do seu passado dirá "é apenas um mito." (...) Mas no mundo pré-moderno as pessoas sabiam que uma história mítica não tinha nada a ver com a História. Era mais do que História. Contava o significado do que aconteceu, o significado oculto do que aconteceu. Para além disso [o mito] era uma verdade intemporal. (...) Uma boa definição do mito é uma coisa que num certo sentido aconteceu uma vez, mas que também acontece a toda a hora. Um aspecto importante a reter acerca do mito é que não faz sentido a não ser que seja colocado em acção. ´(...) O mito coloca-nos na atitude espiritual correcta."

Karen Amstrong
Excerto de uma entrevista para o programa 
O Tempo e o Modo exibido na RTP2 em Junho de 2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Do movimento

"Quantos mundos, melhores dotados do que o nosso, alcançaram já de todo a sua liberdade; quantos findaram já, ao menos, o drama da sua paixão; a quantas consciências ascendentes seria dado o expiar de seus trabalhos, quando o homem ainda só a meio da montanha é que rola o bloco enorme de sua culpa! Espirito atenuado porquanto derivado tempo ainda?! A alma individual desfaleceu e abateu. Quem sabe se avançou?"

Sampaio Bruno
A Ideia de Deus (1902) p. 480

Em sinal de luto

Sampaio Bruno

"Nada me demoveu. Fui inabalável. Não estou arrependido. Abandonei a política para sempre. Mas deixei crescer as barbas, em sinal de luto. Grandes barbas semeadas de cãs, a forma que encontrei para todos se lembrarem, ao cruzarem-me na rua, da minha mágoa por um regime que ajudei a implantar, mas que tendo-se desviado do caminho certo, seguia por atalhos precários e perigosos."

António Quadros
com Sampaio Bruno na primeira pessoa
em Uma Frescura de Asas (1990) p. 114

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Leonardo por Fernando Pessoa

"Nunca haverá em mim entusiasmo que eu sinta que me baste perante o panorama de alma que é a sua obra. O abarcar tanto com a inteligência, o descer tão fundo no sentido possível das coisas - tudo isso representa em Portugal uma novidade para ser acolhida com uma alegria estremunhada."

Fernando Pessoa
em carta a Leonardo Coimbra
(1913)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Invasão

"A sociedade possessiva invadiu o domínio imaterial das ideias."

António Quadros
Franco-Atirador, (1970), p.134

Do mito

"O homem age inconscientemente, os seus gestos inscrevem-se em inércia, visto que o movimento real é o mito."

António Quadros
Introdução à Filosofia da História 
(1982), p. 227

Pruridos

"Nunca os teorizadores de uma filosofia portuguesa ou de uma filosofia de língua portuguesa pretenderam afirmar uma sua existência positiva com finalidades de enaltecimento nacionalista e restrictivo, e muito menos criar uma tradição filosófica para satisfação de pruridos autolátricos, castiços ou aristocráticos."

António Quadros
O Movimento do Homem
(1963), p. 317

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Do amor

"Tenhamos sobre nós a disciplina que se origina não do medo dos coronéis, mas do amor e da apetência das cavalarias que aí vêm. Se renunciarmos, o faremos, não por falta de paixão, mas porque outra mais alta nos prendeu. Aprendamos a reunir o abandono que nos descansa com o tenso esperar do momento de acção. Tratemos o nosso corpo com o cuidado amor do atleta que se prepara, e façamos dele o perfeito instrumento para que cumpramos o nosso primeiro dever: o de durar."

Agostinho da Silva
Revista «Espiral», 8/9 (dir. de António Quadros), 1965.

Religioso ou laico

"Religioso ou laico (...) que haja movimento do homem e que este não seja apenas positivo, material e técnico."

António Quadros
Jornal 57, nº 7, Novembro de 1959

domingo, 2 de setembro de 2012

Da razão social

"Não sabemos se há Deus? Não temos um critério de verdade que digira os nossos actos? Procedamos como se Deus existisse, como se o Estado fosse justo, como se a razão pura tivesse em si a garantia de uma autenticidade. Por outras palavras, e encarando o problema do ponto de vista político: como se o maior número, ou a razão social, constituíssem o selo da verdade; como se o super-homem, ou a razão da vontade, justificassem o direito pela própria virtude da vontade mais forte; como se o indivíduo, ou a razão psicológica fossem justificados em fazer prevalecer, contra o mundo, a superioridade do «ego»; ou ainda como se um futuro ou a razão histórica constituíssem critério para o drama dirigido do presente."

António Quadros
A Existência Literária (1959), p.118