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Padre António Vieira |
"António Quadros é um dos intérpretes da nossa cultura que mais pautou o
seu labor por uma fixação esquemática de autores e correntes de acordo
com categorias que lhes são exteriores, em esquemas determinantes e
integradores, isto é: genealogias e linhagens. Assim, segundo o autor de
Introdução à Filosofia da História, o providencialismo é a grande tradição de
interpretação da história portuguesa, radicada em Paulo Orósio. Quadros
detecta-a não só nas filosofias da história de nítido recorte teológico e de
assumida radicação providencial, augustiniana e orosiana, mas também nos
modos de pensar que classifica como afirmativamente imanentistas, onde se
inscreveriam diversos modos de pensar a história portuguesa de tipo
igualmente teleológico, como que laicizando as escatologias e as teleologias
providenciais. (...) Para Quadros, o problema de Vieira não é a assunção de uma escatologia,
de um providencialismo, ou de uma teleologia lusocêntrica, a questão é
perspectivar o Quinto Império não como uma verdade revelada mas como
uma verdade fáctica, evidente e subsistente: uma verdade em si mesma
fundada.
Confundiu Vieira o possível com o provável, o tempo real com o ideal, a
realidade com o seu eschaton ou fim último, o profético com o divino. A
sua admirável retórica, a sua prosa riquíssima onde surgem aliás
numerosos acertos e profundas intuições implica uma sofística que não
podemos ocultar. (António Quadros, Introdução à Filosofia da História, Lisboa, Ed. Verbo, 1982)
Quadros remete para a liberdade divina e para a liberdade humana como
instâncias que deverão relativizar a pretensão humana a conhecer e
racionalizar o exacto conteúdo dos tempos futuros, preservando todavia o
profetismo, o providencialismo e o pensamento de tipo teleológico e mesmo
lusocêntrico. Aliás, a crítica que Quadros faz a Vieira é o preço a pagar pela
manutenção do seu estatuto como profeta e arauto do Quinto Império e da
necessária mediação de Portugal para o advento do Reino de Cristo na Terra
Consumado.
Rui Lopo
Texto apresentado no Congresso internacional
Padre António Vieira. Ver, Ouvir, Falar: O Grande Teatro do Mundo
18-21 Novembro 2008, Lisboa, disponível também
aqui.