quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um golpe profundo


"É (...) como ensaísta, sobretudo na área da filosofia e da exegese literária, que António Quadros se distingue e ganha notoriedade, sempre de uma forma discreta mas incontornável. (...) A sua intervenção ensaísta abrange ainda as excelentes introduções que escreveu  para livros como Clepsidra e Poemas Diversos e Contos, Crónicas e Cartas Escolhidas, ambos de Camilo Pessanha, Cartas Escolhidas e Obra Poética, de Mário de Sá-Carneiro, e para várias edições da obra de Fernando Pessoa. (...) Consciente do carácter efémero e perecível das vanguardas  António Quadros foi um dos mais perspicazes estudiosos das obras de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros. Com a sua morte, concorde-se ou não com as linhas mestras do seu pensamento, a cultura portuguesa sofre mais um golpe profundo."

José Jorge Letria
Jornal de Letras (1993)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pensar-estar


"Pensar não é uma parte de ser isolável das categorias ou acidentes da substância, isolável da estância, pensar participa também da estância. Não eu penso, logo sou; mas eu penso como sou e estou, ou como sou, estando; o meu pensar é um pensar-estar, por muito que seja um pensar, na filosofia, possuído da paixão de saber, que é paixão de ultrapassar as condições categoriais, de transcender o estar e atingir a substância, o que sub-está e daí o o que é e ultimamente O que é, o Ser sem relativo, a que os religiosos chamam Deus. Mas aos humanos só foi dado, só é porventura dado, pese à ilusão do progresso científico totalizante, um aproximar-se múltimodo, relativo, sempre distanciado, embora evolutivo, da verdade almejada. (...)"

António Quadros
A Filosofia Portuguesa, de Bruno à Geração do 57 seguido de o Brasil mental revisitado, extraído do n.º 42/43 (Julho/Dezembro 1987) da Revista Democracia e Liberdade).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A sociedade dramática da existência

José Gomes Ferreira

"Leonardo Coimbra levou-me à Brasileira do Rossio (...) fez-me descobrir, graças à sua eloquência de lágrimas nos olhos, a sociedade dramática da existência. Mas teve acima de tudo esta extraordinária virtude pedagógica: a de me ensinar o contrário do que pretendia, confiando talvez demais na sedução espectacular do seu verbo entusiástico e persuasivo. Mas o destino arma-as e eu, já aos 20 anos, chegara a conclusões totalmente diversas das dele. Quer dizer: ensinou-me a ser livre. E é, no fim de contas, este gosto a liberdade, em mim sempre ligado à ideia do Liceu Gil Vicente, que mo torna tão grato e tão querido."

José Gomes Ferreira 
Boletim dos Antigos Alunos do Liceu Gil Vicente

Um poema de Luís Amaro

Aprendizagem

a António Quadros 
e Azinhal Abelho


Da morte quero conhecer o sentido profundo,
para melhor compreender
a vida que me deram
e o mundo.

Palpar a morte, ouvir
sua mensagem secreta, inviolável...
Com ela estremecer,
cheio de pavor e amor!

Um morto quero ver
a diluir-se em nada,
a libertar-se do nada
que foi no mundo...

A morte, sim, pretendo conhecer,
e com ela vibrar
e com ela chorar
flageladoras e reveladoras lágrimas...

- Para depois melhor poder viver
e aceitar então, sereno e calmo,
aquilo que o destino me trouxer.

Luís Amaro
Diário Íntimo | Dádivas e Outros Poemas
(Editora Licorne, 2011)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Viajar em auto é correr mundo a cavalo num relâmpago.", Teixeira de Pascoaes

Teixeira de Pascoaes

Via Associação Amarante Automóveis Antigos,  aqui.

Teixeira de Pascoaes com Frederico e Guilherme Pereira de Carvalho

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Capital, 12 de Novembro de 1915

A Capital, 12 de Novembro 1915

Inesgotável

"A filosofia mostra-nos que seria absurdo acreditar que um dia esgotaremos o que é pensável, o que pode ser feito e formado, da mesma maneira que seria absurdo colocar limites ao poder de formação que jaz sempre na imaginação psíquica e no imaginário colectivo sócio-histórico."

Cornelius Castoriadis
"En mal de culture", Esprit (Outubro  de 1984) 
publicado em  "A ascenção  da insignificância" , Editorial Bizâncio (2012), p. 229.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Lembra um Sá-Carneiro que escrevesse romances...



"Romance de inspiração surrealista, mas muito mais "lógico" do que outros livros do autor, em que, (...) Ruben A. mostra a cisão natural da alma humana, dividida entre personalidade que por vezes se afrontam.  Lembra um Sá-Carneiro que escrevesse romances."

António Quadros
(fichas de leitura para o departamento de aquisições da Fundação Calouste Gulbenkian)

O predominante do legado

"O predominante do legado de António Quadros é a leitura filosófica da literatura portuguesa, género em que se encontrou sozinho, por não haver mais ninguém orientado para idêntico método."

Pinharanda Gomes
"António Quadros e a existência literária portuguesa" em
 Revista Colóquio/Letras. In Memoriam, n.º 131, Jan. 1994, p. 197-198.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Os dois Portugais

"O trágico equívoco português foi a cisão dos elementos tradicionais e dos elementos dinâmicos na sua personalidade, cisão a partir da qual surgiram os dois Portugais, distintos e nenhum verdadeiro."



António Quadros
"A Arte de Continuar Português" em Portugal a terra e o homem: antologia de textos de escritores do séc. XX por David Mourão-Ferreira e Maria Alzira Seixo, Fundação Calouste Gulbenkian, 1980. Disponível aqui.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

"Viagens, História e Poesia em Livros para Crianças"


"Talvez por ser filho de uma das escritoras portuguesas que com maior talento, vocação e imaginação cultivaram o género, Fernanda de Castro, há muito que me interessa ou mesmo apaixona toda a problemática da literatura oral e escrita para crianças. (...) Tinha 5 anos quando Almada Negreiros fez para mim uma aguarela com um grande cavalo de circo pintalgado e com uma bela acrobata, que me acompanhou durante toda a vida e que continuo a ter em minha casa, todos os dias debaixo dos olhos. (...)"

 António Quadros 
Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas, Boletim Cultural
VI Série, Nº 4, Março de 1985, disponível aqui.

Ferrer-Correia, Orlando Vitorino e Robert Gulbenkian

António de Arruda Ferrer-Correia, Orlando Vitorino e Robert Gulbenkian no 25º aniversário do Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Fonte: Boletim Informatvo da FCG VI Série, nº 4, Março de 1985.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Filosofia Portuguesa?

"Sei que apesar da estranheza do que me era dado a ler, e sem compreender em profundidade muito do que estava a ler, eu admirava a convicção das ideias, a amplitude das referências, a densidade dos argumentos. Exclamando pouco depois a minha admiração entre gente que eu acreditava mais sábia em virtude das letras das canções que dedicavam à democracia, logo ali mesmo me calaram com o argumento de aquele era discurso desprezável. Filosofia Portuguesa, diziam, acrescentando a deseronra do seu esoterismo e até a sua associação à ditadura. Engoli envergonhado a crítica feroz aos meus gostos desviantes, sufoquei a leitura de António Quadros e tentei manter-me na linha ideológica correcta. Mas aquele episódio veio inevitavelmente à memória quando alguns anos mais tarde, amadurecido pelo erlebnis da História portuguesa, acabei finalmente por reconhecer que se à direita a coisa continuava a enrufar-me, à esquerda a vida intelectual estava afinal pontilhada de ignorantes compulsivos. A vida e a academia fizeram-me entretanto crítico literário e ensaísta. Voltei à leitura de António Quadros, e em 1989 deparei com uma das mais perspicazes abordagens da literatura de que eu tantas vezes falava sem conhecer alguma da sua natureza mais subsistente. Intitula-se A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos últimos 100 anos. (...)"

Manuel Frias Martins
 António Quadros,18 anos depois 
Fundação António Quadros (2011)

«Reflexão à Margem da Literatura Vieirina» | Rui Lopo

Padre António Vieira

"António Quadros é um dos intérpretes da nossa cultura que mais pautou o seu labor por uma fixação esquemática de autores e correntes de acordo com categorias que lhes são exteriores, em esquemas determinantes e integradores, isto é: genealogias e linhagens. Assim, segundo o autor de Introdução à Filosofia da História, o providencialismo é a grande tradição de interpretação da história portuguesa, radicada em Paulo Orósio. Quadros detecta-a não só nas filosofias da história de nítido recorte teológico e de assumida radicação providencial, augustiniana e orosiana, mas também nos modos de pensar que classifica como afirmativamente imanentistas, onde se inscreveriam diversos modos de pensar a história portuguesa de tipo igualmente teleológico, como que laicizando as escatologias e as teleologias providenciais. (...) Para Quadros, o problema de Vieira não é a assunção de uma escatologia, de um providencialismo, ou de uma teleologia lusocêntrica, a questão é perspectivar o Quinto Império não como uma verdade revelada mas como uma verdade fáctica, evidente e subsistente: uma verdade em si mesma fundada. 

Confundiu Vieira o possível com o provável, o tempo real com o ideal, a realidade com o seu eschaton ou fim último, o profético com o divino. A sua admirável retórica, a sua prosa riquíssima onde surgem aliás numerosos acertos e profundas intuições implica uma sofística que não podemos ocultar. (António Quadros, Introdução à Filosofia da História, Lisboa, Ed. Verbo, 1982)

Quadros remete para a liberdade divina e para a liberdade humana como instâncias que deverão relativizar a pretensão humana a conhecer e racionalizar o exacto conteúdo dos tempos futuros, preservando todavia o profetismo, o providencialismo e o pensamento de tipo teleológico e mesmo lusocêntrico. Aliás, a crítica que Quadros faz a Vieira é o preço a pagar pela manutenção do seu estatuto como profeta e arauto do Quinto Império e da necessária mediação de Portugal para o advento do Reino de Cristo na Terra Consumado. 

Rui Lopo
Texto apresentado no Congresso internacional 
Padre António Vieira. Ver, Ouvir, Falar: O Grande Teatro do Mundo
18-21 Novembro 2008, Lisboa, disponível também aqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Terra-pátria

"O nosso mito é o da fraternidade humana que vai buscar a sua raiz à nossa terra-pátria."

Cornelius Castoriadis

domingo, 2 de dezembro de 2012

Ardentes e sinceros

"Sejamos todos nós, escritores e artistas, ardentes e sinceros missionários da verdade mais vitalmente profunda que soubermos conquistar pela beleza das palavras e das imagens."

António Quadros
A Existência Literária (1959), p. 36.