domingo, 28 de setembro de 2014

Foleirice educacional


"O espírito dos livros (...) desapareceu entre revoadas de detritos vocabulares, de alarvidades administrativas, de foleirice educacional. Ouvir hoje falar os acossados e infelizes professores de todos os níveis de ensino, (que dantes incutiam a droga fulgurante da leitura), é assistir a um desfile de inépcias, a um esquecimento conduzido por fotocópias, à sufocação por ordenados que mal dão para sobreviver quanto mais para se descobrir em hábitos de conhecimento, à amargura de seres a si mesmos despromovidos, incapazes de gosto porque amordaçados por tempos infames e destruidores em tarefas imbecis, entre gente submetida à maldição de um Ministério medíocre (...)"

Joaquim Manuel Magalhães
Um pouco da morte, Editorial Presença (1989) p. 294

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Homenagem a José Régio | 23 de Janeiro de 1979

António Quadros, ?, Natália Correia, João Gaspar Simões e Ary dos Santos
Homenagem a José Régio, Lisboa, 23 de Janeiro de 1970

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Não existindo

"Porque, havendo-me acostumado, em todas as outras coisas, a fazer distinção entre essência e existência, persuado-me facilmente que a existência pode ser separada da essência de Deus e que assim, se pode conceber a existência de Deus como não existindo actualmente. (...)" 

 Sampaio Bruno 
A Ideia de Deus, (1902) 
Lello & Irmãos - Editores, 1987, p. 234

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Não por malícia


"O que ilumina o mundo e o torna suportável é o habitual sentimento que temos dos nossos laços com ele - e mais particularmente do que nos liga aos seres. As relações com os seres ajudam-nos sempre a continuar porque pressupõem desenvolvimentos, um futuro - e também porque vivemos como se a nossa única tarefa fosse precisamente o manter relações com os seres. Mas nos dias em que nos tornamos conscientes de que não é a nossa única tarefa, sobretudo nos dias em que compreendemos que só a nossa vontade conserva esses seres ligados a nós - deixem de escrever ou de falar, isolem-se e verão como eles fundem em vosso redor - verão como a maioria está na realidade de costas voltadas (não por malícia, mas por indiferença) e que o resto conserva sempre a possibilidade de se interessar por outra coisa; quando imaginamos desta forma tudo quanto entra de contingente, de jogo das circunstâncias, no que costuma chamar-se um amor ou uma amizade, então o mundo regressa à sua noite e nós a esse grande frio de que a ternura humana por um momento nos tinha afastado. (...)"

Albert Camus, Cadernos II
trad. António Quadros, Lisboa: Livros do Brasil, s/d