sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Sobrancelhas


“Já se disse que nunca aflorou um sorriso à boca imperiosa do Redentor, mas com qual outra cambiante aos cantos dos lábios e por entre as sobrancelhas se poderia ter pronunciado certas palavras? (...)"
Cristina Campo
Os Imperdoáveis (2005)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Vieira

"É curioso que, sendo escassa a minha capacidade de entusiasmo, ela é naturalmente mais solicitada pelos que se me opõem em temperamento do que pelos que são da minha espécie espiritual. A ninguém admiro, na literatura, mais que aos clássicos, que são a quem menos me assemelho. A ter que escolher, para leitura única, entre Chateaubriand e Vieira, escolheria Vieira sem necessidade de meditar. (...)"

Bernardo Soares
Livro do Desassossego

Ser

"A sensibilidade de Mallarmé dentro do estilo de Vieira; sonhar como Verlaine no corpo de Horácio, ser Homero ao luar. (...)"

Bernardo Soares
Livro do Desassossego

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Escreve-se

"Escreve-se para os vizinhos ou para Deus. Tomei o partido de escrever para Deus com o fito de salvar os meus vizinhos. Eu queria devedores de obrigações e não leitores.  (...)"

 Jean-Paul Sartre 
As Palavras (1964) pp. 155-156

Durante muito tempo

"Durante muito tempo invejei os porteiros da Rua Lacépède, quando a noite e o verão os fazem sair para a rua, encavalitados nas cadeiras: os seus olhos inocentes olhavam sem ter a missão de ver. (...)"

Jean-Paul Sartre
As Palavras (1964) p. 142

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Cujo significado nos escapa

"Camus pertenceu à geração dos que, perdida a antiga fé numa religião ou sequer na filosofia considerada como sistema capaz de explorar todo o paradoxal, todo o contraditório, todo o enigmático que a existência oferece, se encontraram subitamente num mundo absurdo, cujo significado lhes escapa. (...)"
António Quadros
Os Justos, Livros do Brasil (1960) de Albert Camus 
(do prefácio)

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Recordação imóvel

"O campo, para mim, é a revivescência permanente de uma recordação imóvel. Sucede isto porque no campo, por mais que tudo mude, tudo está sempre no princípio, silencioso e quieto. É da ordem das coisas que não haja tempo. (...)"

Paulo Varela Gomes
Ouro e Cinza (2014)
via Antologia do Esquecimento

terça-feira, 18 de novembro de 2014

A actualidade da poesia


"(...) Creio entender a razão pela qual a atualidade da poesia é mais questionada do que a de outros gêneros artísticos tradicionais. É que, de maneira geral, as outras artes podem ser apreciadas não apenas de modo refletido e profundo, mas também são capazes de nos entreter de modo ligeiro e superficial. Podemos apreciar uma peça musical mesmo enquanto estamos, por exemplo, trabalhando. E podemos apreciar uma obra plástica como uma pintura ou uma escultura, por exemplo, “en passant”. A poesia escrita, por outro lado, quase sempre exige de nós, para que a apreciemos, que a leiamos de modo refletido e profundo.
A mais evidente razão para isso é que a linguagem do poema não funciona do modo convencional e cotidiano. Normalmente, usamos a linguagem como um instrumento para a comunicação e o pensamento prático, utilitário, instrumental. Pois bem, a linguagem do poema nem se limita a ser mero instrumento ou meio, nem está a serviço do pensamento instrumental. No poema, fundem-se meio e fim, assim como outras categorias que, no uso convencional da linguagem, tendem a se manter separadas, tais como essência e aparência, forma e conteúdo, significante e significado etc. Por isso, não podemos ler um poema ao modo impensado, ligeiro, superficial, automático, irrefletido em que lemos a maior parte das coisas. A leitura do poema toma tempo, e dá trabalho.
Ora, algo que, além de tomar tempo e dar trabalho, não oferece qualquer perspectiva de trazer alguma recompensa palpável — e, de preferência, pecuniária — é simplesmente incompatível com a hoje predominante apreensão instrumental do ser. Para esta, ela não faz senão atrapalhar a vida.
É exatamente por ser capaz de impedir a redução da vida a essa sua dimensão instrumental que a poesia é importante no mundo contemporâneo. É ao subverter ou perverter a linguagem instrumental e sua correspondente apreensão instrumental do ser que a poesia convida o leitor a se permitir livremente enredar e fascinar pelos sentidos dos versos, palavras, paronomásias, metáforas, metonímias, alusões, sugestões, melodias, ritmos, silêncios, espaços etc. dos poemas. E é ao deixar, nesse empenho, interagirem e brincarem em seu pensamento razão, emoção, intelecto, sensibilidade, intuição, memória, senso de humor etc., que o leitor enriquece a vida com um outro modo de apreensão do ser: o poético."

Antônio Cícero
Jornal O Globo | Novembro de 2014
Texto completo aqui

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

X Colóquio Tobias Barreto, dias 17 e 21 de Novembro, em lisboa


Promovido pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (IFLB), o X Colóquio Tobias Barreto: A Filosofia Jurídica Luso-Brasileira do século XIX, realiza-se em Lisboa entre os dias 17 e 21 de Novembro de 2014.

Programa

17 Novembro: Palácio da Independência

15h | Sessão de Abertura
16h | Panorama Geral da Filosofia jurídica luso-brasileira no século XX:
António Braz Teixeira

17h | I – Utilitarismo jurídico

J.J. Rodrigues de Brito: José Esteves Pereira
Silvestre Pinheiro Ferreira: Rodrigo Sobral Cunha

18 novembro: Universidade Nova de Lisboa

10h|II – Jusnaturalismo sensista

Mont’Alverne: Jorge Teixeira da Cunha
Avelar Brotero: Paulo Ferreira da Cunha
António Luís de Seabra: Pedro Barbas Homem

Intervalo para Almoço

15h|III – Racionalismo e krausismo jurídicos

Pedro Autran de Albuquerque: Ana Paula Loureiro
Vicente Ferrer Neto Paiva: Clara Calheiros
J. Dias Ferreira: Mário Reis Marques
J.M. Rodrigues de Brito: António Paulo Oliveira
Galvão Bueno: António Braz Teixeira
J. Teodoro Xavier de Matos: Arsênio Eduardo Correa
Cunha Seixas: Joaquim Domingues

19 Novembro: Universidade Nova de Lisboa

10h|IV – A Tradição Escolástica

L. Azevedo e Silva Carvajal: Luís Lóia
José Soriano de Sousa: Fábio Abreu Passos

Almoço e Tarde Livre

20 Novembro: Universidade Nova de Lisboa

10h|V – Monismo culturalista da Escola do Recife

Tobias Barreto: José Maurício de Carvalho
Sílvio Romero: Constança Marcondes César
Clóvis Bevilaqua: Rogério Garcia de Lima

Intervalo para Almoço

15h|VI – Cientismo, Naturalismo e Positivismo na Concepção do Direito

F. Faria e Maia: Manuel Cândido Pimentel
Teófilo Braga: Afonso Rocha
Manuel Emídio Garcia: Norberto Cunha
Henriques da Silva: João Titta Maurício
Alberto Sales: Ricardo Vélez Rodríguez
Pedro Lessa: Adelmo José da Silva

21 Novembro: Universidade Nova de Lisboa

10h| Evocação de Lúcio Craveiro da Silva e Milton Vargas
11h| Apresentação de Obras
12h| Sessão de Encerramento

X Colóquio Tobias Barreto
A Filosofia Jurídica Luso-Brasileira do século XIX
Lisboa, 17-21 de novembro de 2014

Parcerias
Centro de Histria da Cultura da Universidade Nova de Lisboa
Universidade de São João d’El Rei.

Apoios
Fundação Calouste Gulbenkian
Grupo Delta
Grupo Jerónimo Martins
Sociedade Histórica da Independência de Portugal.

Espírito de pertença

"(....) Como escreveu George Steiner, «há tempos de crise em que só a utopia é realista». O realismo da extensíssima rede de possibilidades de “vida real” que o passado nos legou sob a forma de tradição e cultura, nem sempre tem aplicação imediata. A ciência nem sempre tem aplicação imediata. Os saberes nem sempre têm uma aplicação imediatamente quantificável. No entanto, esse facto não os impede de contribuírem decisivamente para a criação de coesão social, espírito de pertença, sentido. Sem isso, nenhuma vida é real, nem sequer a das empresas. O desprezo com que os nossos governantes encaram actualmente a infelicidade social dos portugueses compreende-se melhor no contexto desta obsessão empresarial. E no entanto, “há mais coisas nos céus e na terra...”. O excessivo protagonismo de empresas, empresários e empreendedores decorre de uma descrição ideologicamente construída; uma descrição que desvaloriza muitas outras profissões e actividades, sem as quais nenhuma sociedade digna desse nome pode sobreviver. O excessivo protagonismo de empresas, empresários e empreendedores decorre de uma descrição ideologicamente construída; uma descrição que desvaloriza muitas outras profissões e actividades, sem as quais nenhuma sociedade digna desse nome pode sobreviver."

 Rosa Maria Martelo
Pelas 14h30 do dia 17 de Janeiro de 2014

domingo, 9 de novembro de 2014

Pística de "pistia" ou da relação com o divino

"Se o sentimento religioso morre, fazendo desaparecer a via pística do conhecimento, se a razão abre falência, na crise do positivismo, do idealismo germânico e, de um modo geral, das conglomerações de ideias tendentes a eternizar e a universalizar os conceitos, o homem vê-se então perdido num universo onde tudo lhe é estranho e cuja linguagem não entende. (...)"

António Quadros (do prefácio)
Os Justos, Livros do Brasil, (1960)de Albert Camus