António Quadros se estivesse vivo faria 85 anos. O desafio é este: enviem-nos um pequeno texto, um poema, um verso ou apenas uma frase em sua memória. O primeiro é da autoria de: Mafalda Ferro (filha).
"Como todas as meninas, adorava o meu pai. Era o melhor do mundo. Sabia contar histórias melhor que os outros pais. Brincava comigo como se, também, fosse pequenino. Perseguia-me de gatas pela casa fora, até a minha mãe ralhar com ele. Ria até as lágrimas lhe caírem pela cara abaixo. Olhava-me sempre com um sorriso cúmplice e amigo. Quando eu estava triste ou alguém era mau comigo ele dava-me um beijinho e dizia-me que gostava muito de mim e, nada mais tinha importância. Quando me levava à escola, já sabia que se iam zangar comigo pois ia chegar atrasada mas não me importava, pois com ele havia sempre uma aventura ou uma história. Às vezes dizia piadas sem graça nenhuma mas ria-me porque gostava dele. Tinha amigos muito chatos. Quando estava com eles, a ler, a escrever ou a comer aperitivos, não tinha paciência para mim e eu ficava triste. Tinha um mundo que era só dele e de alguns amigos. Nesse mundo ele era muito sério. A minha mãe zangava-se quando ele lá estava. No domingo, a seguir à missa da uma, no Loreto, o meu pai ia para a Brasileira tomar café e falar de coisas que eu não entendia. A minha mãe levava-nos para a Benard com as suas amigas chiques que tinham filhos bem vestidos e sorridentes. Mas, apesar dos rins de chocolate, eu queria ter ido com o meu pai. A seguir íamos todos almoçar ao “Noite e Dia”, porque a criada tinha folga aos domingos.
Adorava brinquedos de corda. Já eu era crescida e ainda ele descobria uns feirantes à beira da estrada que vendiam ursinhos aos saltos. Ficava tristíssimo porque queria comprá-los e não sabia para quem. No fundo, era ele quem lhes achava graça. Odiava livros de quadradinhos. Dizia que nos estragavam o português. Um dia queimou na lareira uns do Mandrake que uma amiga me tinha emprestado. Fartei-me de chorar e ele ficou aflitíssimo mas… a língua portuguesa era uma prioridade, lá em casa."
Adorava brinquedos de corda. Já eu era crescida e ainda ele descobria uns feirantes à beira da estrada que vendiam ursinhos aos saltos. Ficava tristíssimo porque queria comprá-los e não sabia para quem. No fundo, era ele quem lhes achava graça. Odiava livros de quadradinhos. Dizia que nos estragavam o português. Um dia queimou na lareira uns do Mandrake que uma amiga me tinha emprestado. Fartei-me de chorar e ele ficou aflitíssimo mas… a língua portuguesa era uma prioridade, lá em casa."
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