sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O cavalo espantado

"[Alves Redol] renovara-se já com A barca dos sete lemes e esse original e lírico fresco ribatejano dedicado a Almeida Garrett a que deu o título de Olhos d´Água. Com O cavalo espantado vai porém tão longe, que dir-se-ia estarmos perante um outro romancista - não porque se negue, mas porque foca o seu olhar em objecto inteiramente diferente dos seus predominantes motivos sociais (...) Alves Redol apresenta-nos Leo e Pedro como tese e antítese enquanto Yadwiga é a mulher dividida entre uma realidade que intimamente repele e um sonho de idealidade em que já não ousa crer. (...) Leo é um homem amoral, para quem o dinheiro é o primeiro princípio da sociedade e o erotismo é o primeiro princípio do amor. Em Yadwiga há (...) uma aceitação resignada deste amoralismo e ao mesmo tempo um despertar a que não é alheio o exemplo de Pedro. Neste, ao contrário de Leo, há a corajosa procura de uma «personalidade ética», a qual apenas se afasta do moralismo cristão, na medida em que o autor exprime um tipo de moral Kantiana unicamente derivado da razão (...) Devemos acrescentar que a conclusão do livro é tão ambígua quanto a teoria kantiana que suporta a tese. O problema ético proposto fica na realidade sem solução e suspende-se interrogativamente. O maior mérito do livro reside pois na proposição e desenvolvimento da questão, na análise dos caracteres, na verosimilhança das situações, sobretudo na fidelidade psicológica das personagens. (...)"


António Quadros
"Neo-Realismo em evolução, «o Cavalo Espantado» e «Barranco de Cegos», de Alves Redol
em Crítica e Verdade (1964) pp. 88-95.

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