"Contigo, sei que o mais insignificante acontecimento da fábrica, passa à frente do mais importante acontecimento do nosso amor. Olha que é triste e é humilhante... (...) Durante a guerra, todos os teus camaradas me diziam que eras um oficial exemplar. Agora, queres ser um patrão exemplar. Tens um lado «Simão, o Patético», um lado aluno-modelo, és «honesto»; não é um crime, mas é um pouco massador... Ou então, gostaria que tivesses a mesma consciência no que diz respeito ao nosso amor.
- Mas em questões de amor não preciso da consciência para nada. Amo-te naturalmente, sem esforço.
Simone pôs de lado os pincéis, levantou-se e veio sentar-se na relva, aos pés de Bernardo.
- Nada se consegue sem esforço - disse. - Eu, procuro fazer de cada instante da minha vida uma pequena obra prima. Quero que seja belo, o encontro com a manhã, que o meu vestido diga com o tempo e com a hora, que a última frase que se diga à noite faça um bom «fim de acto». (...)"
André Maurois
em Tradição, Edição Livros do Brasil, 1964
tradução de António Quadros.
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André Maurois, pseudónimo de Émile Herzog, nasceu em 1885, em Elbeuf, França. Escreveu romances, livros infantis, ensaios, contos e histórias de ficção cientifica, mas foi como biógrafo que se notabilizou. Das muitas biografias que escreveu, destacam-se A la recherche de Marcel Proust, de 1948; Les Trois Dumas, de 1957; e Prométhée ou la Vie de Balzac, de 1965.
Em 1938 tornou-se membro da Academia Francesa e, no início da II Guerra Mundial combateu pelas forças aliadas no Norte de África, ao lado de Antoine de Saint-Exupéry, de quem era grande amigo. Faleceu aos 82 anos no dia 19 de Outubro de 1967.
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