segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Pedro e o Mágico


"Um dia, como de costume, iam os quatro a caminho da escola, quando o pai se inclinou para o volante, e se pôs a espreitar para a buzina do carro. (...) O pai disse então:
- Que massada!
Os filhos ficaram intrigados, julgaram que o «Bate-Latas» estava com alguma avaria. O António perguntou:
- O que é pai?
O pai respondeu:
- Agora nunca mais posso tocar buzina!
(...)
Eu já estava desconfiado - disse o pai - Ontem à noite tinha visto umas luzinhas a saírem da buzina. Agora já sei o que é.
- O que é pai? (...)
- Foi uma família de pirilampos que veio instalar-se aqui na buzina, lá por dentro. Parece-me que são três.
(...)
Um dia, o pai inclinou-se como antigamente para a buzina, e chamou.
- Piri-Piri! Piri-Piri!
(...)
O António disse:
- O pai sabe muito bem que não há pirilampos, aí na buzina. (...)
-Já não somos bebés.
(...)
Chegaram à escola. Saíram a correr, como de costume. O pai ficou sozinho dentro do automóvel., Viu os filhos a conversar com os amigos. Disse-lhes adeus com a mão, e sorriu-lhes. (...)
Inclinou-se para o volante e disse, em voz baixa:
(...) é melhor irem-se embora, e escolherem outro carro e outra buzina. Adeus, Piri-Piri. (...)
Agora, que os pirilampos se tinham ido embora, já estava cheio de saudades de todos eles."

António Quadros
«Os pirilampos» em O Pedro e o Mágico (1972)

Sem comentários: