terça-feira, 23 de outubro de 2012

Meu caro Ângelo

"Nesta terra de analfabetos e homens de letras, em geral muito abaixo dos analfabetos, os que pensam com dor e profundeza, os que sentem pensando e passam sentindo, passam ignorados ou mal conhecidos pela parte episódica da sua vida. É assim que todo o meu labor filosófico, todo o meu trabalho emotivo, ainda há pouco, você o sabe, foram esquecidos para me emprestarem nos jornais uma fisionomia de político, com amigos políticos ( votos?! ) e tudo. Isto tem o seu lado trágico: bem mostra como é difícil inscrever no espaço ( «objectivar», em linguagem filosófica ) a verdadeira máscara da nossa intimidade. Já pensou, meu amigo, como somos diferentes na apreensão alheia e como na opinião que os outros de nós fazem é a mão brutal da fatalidade a deformar o modo essencial do nosso ser? A flor da consciência é a mais trémula e hesitante, mal pode abrir as melindrosas pétalas no vendaval que a brutaliza. (...)" 

 Leonardo Coimbra em carta a Ângelo Ribeiro, 

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