"[...] a saudade vence a irreversibilidade do tempo e a distância do espaço, efectua a síntese, ou mais a união do espaço e do tempo, anulando sua aparente diferença e desunião: e anulando-os finalmente como forças terrenas. Se quisermos apontar na espiritualidade mundial outro princípio semelhante e inserto numa dada filosofia, lembremos o ioga na filosofia indiana. A saudade é, tal o ioga, na sua vera tradução, união. E ambos como dimensões específicas de duas grandes espiritualidades mundiais; situadas, uma num extremo atlântico da Europa, outra no centro da Ásia. E duas formas diferentes que tomou o mito da reintegração, o que está primordialmente na saudade e no ioga. E ambos como disciplinas de ascese, visando a perfeição do ser e estar no mundo, num estado de consciência superior. [...] Mas, notável diferença, a saudade, pelo homem português, levou esse princípio à sua manifestação na História pela Descoberta da terra e do céu. Embora haja também no ioga esta dimensão cósmica, ela não se projectou num acto histórico realizado efectivamente na realidade. Na introversão da alma indiana e não-vontade de intervenção no mundo alheio, mas voluntariamente limitando-se sobre si, não houve essa outra projecção no plano histórico, tal como a nação portuguesa; uma concepção espiritual traduzida extrovertidamente num feito à medida universal, abrindo novo ciclo, a Idade Moderna."
Dalila Pereira da Costa
As Margens Sacralizadas do Douro Através de Vários Cultos.
(Lello Editores, 2006: p.101)
1 comentário:
:) Já sigo!
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