quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fernanda de Castro

Leitura de poemas de Fernanda de Castro dia 29 no Café Progresso (Porto) pelas 21:30. Mais informações aqui.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Homenagem a António Quadros (14 de Julho de 2010)

"Para mim, hoje, António Quadros representa, acima de tudo, a saudade de uma grande amizade, de um longo convívio e de uma comunhão de ideais patrióticos e espirituais, de uma luta comum pelo reconhecimento do significado e valor da filosofia e da cultura portuguesas e luso-brasileira, pela actualização de fecunda, embora encoberta, ignorada e esquecida tradição cultural. Na data em que completaria 87 anos, recordo também o homem bom, desinteressado e corajoso, que se entregou, com a razão e o coração, a um ideal espiritual superior e cuja obra é, cada vez mais, reconhecida pela sua rica e múltipla originalidade, aberta compreensão e subtil inteligência hermenêutica."

António Braz Teixeira

"Ler António Quadros foi uma revelação. Conhecer António Quadros tornou-se uma descoberta permanente. Conversar com António Quadros era um encanto superlativo e intemporal. Rememorar António Quadros é deixar-nos invadir pela saudade, mas é também uma oportunidade de o celebrar. António Quadros marcou gerações sucessivas com uma cultura enciclopédica – sobretudo dos clássicos que "tratava por tu" –, com um inefável Amor a Portugal, com uma arguta percepção da peregrinação lusíada pelo mundo, com uma densidade comunicacional simples, mas profunda. Hoje, mais do que em qualquer outra época da nossa contemporaneidade recente, que falta nos faz António Quadros!

Roberto Carneiro

[newsletter nº 13, Julho de 2010, Fundação António Quadros]

quarta-feira, 21 de julho de 2010

11 de Novembro

"Veio o médico de serviço. Veio a irmã Eugénia, solícita, bondosa, passando-me a mão sobre a fronte. Vieram enfermeiros. Foi uma agitação ruidosa e insuportável. Conduziram-me de maca até à enfermaria. Deram-me não sei que pílulas, atarefaram-se em meu redor. Trouxeram-me de novo para o quarto e deitaram-me. Melhorei, um pouco pelo menos, e a dor fortíssima desapareceu, ficando só a mesma pressão sobre o peito. Sinto-me agoniado. Vou morrer? Vou morrer? [...] Pensar, lembrar, as duas dores confundem-se-me, a dor dos meus ideais abatidos (e todavia resistentes) e a dor desta opressão que me sufoca [...] Lembro-me do que me disseste, há muitos anos, na minha visita à Holanda quando exilado de Portugal. Ah! A hora primeira! Quando com assombro se descobre que não há margem para dúvidas! Quando se chega a de onde não se pode voltar! O que se encontra, meu Deus!
Foste arrepiantemente premunitório. O que se encontra? Um quarto de hospital, um cheiro a desinfectantes, a comiseração das pessoas que nos olham como se já não estivéssemos cá, as últimas despedidas, a visita de uma amiga querida mas logo saudosa, as más recordações, um olhar para trás e perceber que tudo passou velozmente e não aproveitámos o nosso tempo, um reviver os nossos erros e um menosprezar dos nossos possíveis acertos. Olhamos para dentro de nós e apercebemo-nos que fomos pouca coisa, de que somos pouca coisa. Escrevemos livros, sobretudo um livro, montámos toda uma teoria de respostas satisfatórias para as nossas mais fundas interrogações, julgámo-nos senhores de um saber superior ao da maioria dos nossos amigos ou contemporâneos, mas sempre a mesma pergunta contundente e inevitável. O que se encontra, meu Deus?"
António Quadros
Uma Frescura de Asas, Europress (1990) pp. 114-115

Helena

"[...] A que eu julgara ter morrido no meu coração como eu teria morrido no dela, a que eu magoara, a que sobrevivera à minha fuga lamentável estava agora comigo, apertando naturalmente a minha mão, acarinhando-a e tratando-me de novo [...] pelo meu nome próprio. As nossas mãos acomodaram-se, a minha palma e os meus dedos calejados de escritor e jornalista, a suavidade feminina da sua pele, que o manuseio dos livros e as lidas da casa não tinham conseguido desfrear. Eu desejava-a, sim desejava-a. Perguntarás, atónito: como, agora, assim, tu, velho filósofo doente? Uma alegria. Uma dor. Um querê-la absurdamente, quando sabia que nunca a poderia ter. Mas uma consolação. Eu vivia. Não ousámos sequer sorrir-nos. Quase embaciados os seus olhos, mas conseguiu dominar-se...Eu vivia, vivia uma vida de homem. Não era capaz de dizer mais do que: - Helena, Helena..."

António Quadros
Uma Frescura de Asas, Europress (1990) pp. 95-96

Dobrado sobre a grande máquina

“Marinho era o contemplador do número, do espírito recôndito, na experiencia anagógica da visão unívoca. Mas Álvaro Ribeiro era o operário de Deus, o trabalhador que, dobrado sobre a grande máquina do mundo e sobre o formigueiro dos homens, tentava fazê-los mover, arrolando cada um de nós para uma função própria e levando-nos as instruções deixadas pelo fabricante de origem. A cada pensador português, o seu poeta. Se Junqueiro para Bruno, Antero para Sérgio, Pascoaes para Leonardo e Marinho, Pessoa para Agostinho, o poeta de Álvaro Ribeiro era José Régio […]”
António Quadros
Memórias das Origens Saudades do Futuro,
Publicações Europa-América (1992) p. 318

quarta-feira, 14 de julho de 2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Da unidade do infinito no perfeito

"Não é absurdo (digamos: ridículo) conceber que toda esta laboriosa evolução mundial se operou, opera, operará para que o Sr. Fulano saiba bem física e o Sr. Beltrano não tenha segundo no cálculo? [...] Saber por saber é uma espécie de masturbação superior. [...] Porque o desfecho e remate do homem não é gozar-se, repita-se. Se o mundo não existe para que o homem saiba, odioso seria fantasiar que o universo continua subsistindo para que o desfrute o homem. [...] O fim do homem neste mundo é libertar-se a si, libertando os outros seres. [...]"

Sampaio Bruno, A Ideia de Deus, (1902)
Livraria Chardron - Lello & Irmão, Editores, pp. 468-469