Neste mundo em ruínas, onde não se escuta absolutamente nada, a não ser o silêncio e o "trabalho persistente do caruncho que rói há séculos na madeira e nas almas" (Raul Brandão) com a internet, pelo meio, a mudar-nos o cérebro, é preciso procurar no passado quem nos apazigue o sofrimento e nos salve a alma.
Sabemos como a felicidade e a perfeição dos homens deixou de ser uma utopia, para se tornar num simulacro tão ou mais falso do que o mundo mais utópico que alguma vez a humanidade concebeu. Mas que importância podem os escritores, os artistas e os filósofos ter, se também eles, na sua grande maioria, participam na construção dessa visão, pela conivência com que vivem e pensam este mundo, ora recusando fundamentalistas e obtusos outras formas de se fazer cultura, ora desistindo e entregando-se sem reservas ou autonomia, a bem da fraternidade, a interesses próprios?
Existe no homem, desde há largos anos, a ideia de que a cultura não serve para nada. Em sentido amplo, ou, simplesmente, em sentido restrito, tudo, no que lhe diz respeito, é o mesmo. A cultura é desprezada, quando não absolutamente esquecida. Subsiste ainda entre nós, a sensação de que o mundo se divide em duas partes e, bem vistas as coisas, talvez seja verdade. O fosso está cada maior, mais fundo do que no passado.
Seria de esperar que o mundo das ideias e o outro, tão diferentes entre si, se encontrassem (como quem, depois de ultrapassar as suas fronteiras, encontra do outro lado um inimigo ou apenas algo ou alguém que não conhece) porém, acomodados pelo reconhecimento da mediocridade alheia e assustados pelo desconhecido à sua frente, desprezam-se e recusam, com os meios que têm ao seu alcance, por ignorância ou excesso de sabedoria, a existência do outro nas suas vidas.
Não se conhecem, não se vêem, não sabem que o outro é seu semelhante. E nós, tão indiferentes ao mundo como os outros, cúmplices como eles quanto ao resto, já não sentimos nenhuma estranheza ou vontade.
António Quadros Ferro
Seria de esperar que o mundo das ideias e o outro, tão diferentes entre si, se encontrassem (como quem, depois de ultrapassar as suas fronteiras, encontra do outro lado um inimigo ou apenas algo ou alguém que não conhece) porém, acomodados pelo reconhecimento da mediocridade alheia e assustados pelo desconhecido à sua frente, desprezam-se e recusam, com os meios que têm ao seu alcance, por ignorância ou excesso de sabedoria, a existência do outro nas suas vidas.
Não se conhecem, não se vêem, não sabem que o outro é seu semelhante. E nós, tão indiferentes ao mundo como os outros, cúmplices como eles quanto ao resto, já não sentimos nenhuma estranheza ou vontade.
António Quadros Ferro
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