quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ser possível e ser necessário

São Tomás de Aquino
"São Tomás é claro ao afirmar que ainda que as coisas dependam da vontade de Deus como da sua causa primeira, não é por isso que se deve dizer que não há necessidade absoluta nas coisas, ao ponto de admitir que tudo é contingente. É certo que um efeito é contingente quando não procede necessariamente da sua causa e que as coisas não procederam de Deus, por necessidade da sua natureza, mas pela sua vontade e sem qualquer constrangimento, mas nada obsta a que uma coisa seja necessária e que a sua necessidade tenha uma causa, como acontece nas demonstrações. (...) Aceitar que certas criaturas tenham sido constituídas necessárias por Deus não implica, no entanto, que sejam independentes de Deus. Toda a criatura d'Ele depende, como o efeito da sua causa, pelo que até os entes necessários são dependentes do influxo de ser da primeira causa. Por conseguinte, a relação com Deus qualifica permanentemente a criatura; sem operação do poder divino, não poderia subsistir nem um instante, seria reduzida a nada. (...) Ao concluir que existe o primeiro movente, a primeira causa eficiente, o ser necessário por si que é causa da necessidade dos demais, o maximamente ente e uma inteligência providente que é causa (primeira e) final da ordem do mundo, definem-se cinco dimensões* do ser enquanto actualidade de todos os actos e perfeição de todas as prefeições, fundamento de tudo quando é. (...) As cinco vias partem de uma base existencial sensível, caminhando do visível para o invisível, do menos perfeito para o mais perfeito, dos seres para o Ser; em suma, progredindo da potência para o Acto."

Maria Inês Bolinhas
"Uma releitura das cinco vias de Tomás de Aquino à luz do conceito de ser" 
em A Questão de Deus na História da Filosofia, Sintra: Zéfiro, pp. 327-340.

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* As cinco vias: movimento, causa eficiente, ser possível e ser necessário, graus de ser e governo do mundo.

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