quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A multidão dos fracos é cada vez de tentação maior

"O que, porém, sucede, é que se entretêm demais os artistas, e nada julgam ser se o não fizerem, com filosofias que apenas têm como origem o não se saber, o não se pensar e o não se querer; esteticismos de sobremesa substituem o rancho de trabalhar e produzir; nas conversas de sociedade de bom tom se diluem os caracteres que só o silêncio e o isolamento poderia dignamente martelar; toma-se o tranquilizante para afastar angústia que tão bem-vinda seria como sinal de Deus; bebe-se porque se está triste, não para celebrar a alegria; ninguém mais sabe estar de pé ou andar a pé: cadeira e automóvel se redesenham, se aperfeiçoam; e a multidão dos fracos é cada vez de tentação maior para o domínio dos ousados sem escrúpulo (...)"

Agostinho da Silva
Espiral, Ano I, n.os 4/5, Lisboa: 
Tipografia Peres, 1964-1965, p. 24-36

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