quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O Brasil como se projeta

"O Brasil não poderá nunca ser o guia e o instaurador de uma cultura de verdadeira convivência, entre os homens e dos homens com o mundo, de verdadeira liberdade, que não é apenas a liberdade política, mas igualmente a liberdade econômica, a liberdade de agir como ser físico independentemente das reais ou supostas fatalidades do universo, e de liberdade de criação poética, quer essa poesia seja a de uma interjeição lírica, ou a de uma equação ou a de um motor melhor que Diesel, sem que entenda que isso é conhecer como se formou, a partir das três grandes correntes do índio, do português, do africano, como age no seu presente, depois de ter assimilado tanto outro grupo imigratório e de se ter posto em contacto com tantos outros povos do mundo, e sobretudo como se pensa, ou fantasia, ou se projeta para seu futuro, quanto aos indivíduos que o compõem, quer sejam os de um São Paulo, técnico e metropolitano, quer os de um Nordeste que só agora começa libertando-se de ser uma colônia do referido São Paulo. Se é que São Paulo não vai tentar que continue seu regime colonial por meio de um neocapitalismo disfarçado em nacionalismo econômico. (...)"

Agostinho da Silva
Cadernos de Estudos Brasileiros, Goiânia: 
Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Goiás, 
nº 1, outubro de 1963, p. 29-34

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