terça-feira, 21 de abril de 2015

A metafísica é trânsito

"Mas em antecipação e em conclusão digamos que física não se opõe à metafísica, como é corrente a partir de Leibniz. O rio não se opõe à margem. As margens é que são entre si opostas. Isto é, não há metafísica sem física, nem física sem metafísica, como não pode haver ultrapassagem de um rio que não seja rio. (...) A metafísica é por si garantia da coexistência dos opostos sem os quais ela nada poderia ser. O que em Aristóteles se opõe ao físico é o lógico e não o metafísico. (...) A metafísica é trânsito em função de duas instâncias; é fácil desconhecer o real, é mais difícil desconhecer o ideal como ingrediente de pensamento. Não é só difícil mas impossível, e nisto reside a força aparente da prova idealista. O real exige como prova testemunhal de si próprio o pensamento, e daí a suposição da anterioridade e superioridade de valor do pensamento perante a existência. Mas metafísica, como vimos, não é só pensamento, mas esforço de correlação entre o pensamento e a existência. (...)"

Delfim Santos 
"Da ambiguidade na metafísica" 
Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia tomo 2, 840-846, separata
(1949)

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