"Mas em antecipação e em conclusão digamos que física não se
opõe à metafísica, como é corrente a partir de Leibniz. O rio não se opõe à margem. As margens é que são entre si opostas. Isto é, não
há metafísica sem física, nem física sem metafísica, como não pode
haver ultrapassagem de um rio que não seja rio. (...) A metafísica é por si garantia da coexistência
dos opostos sem os quais ela nada poderia ser. O que em
Aristóteles se opõe ao físico é o lógico e não o metafísico. (...) A metafísica é trânsito em função de duas instâncias; é fácil desconhecer o real, é mais difícil desconhecer o ideal como ingrediente
de pensamento. Não é só difícil mas impossível, e nisto reside
a força aparente da prova idealista. O real exige como prova testemunhal
de si próprio o pensamento, e daí a suposição da anterioridade
e superioridade de valor do pensamento perante a existência. Mas
metafísica, como vimos, não é só pensamento, mas esforço de correlação entre o pensamento e a existência. (...)"
Delfim Santos
"Da ambiguidade na metafísica"
Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofia
tomo 2, 840-846, separata
(1949)
Sem comentários:
Enviar um comentário