"Advertência preambular, prefácio, prolegómeno, intróito, ou como queiram chamar-lhe, manda a técnica que aqui escrevunhe. Pergunto-me, porém, para quê? Na humilhada volta, encontro-me, em verdade, com copains no cemitério, com camaros de pé na escotilha do Brasil. Miseramente, com isto para o brochador. [...] Mas - feliz, infelizmente - eu não sou um homem de letras, eu nunca quis jamais ser outra coisa de que um homem de propaganda. Não sou um literato, sou um jacobino, não sou um estético.
Por isso não me amofino. Não discorro para iguais; falo para quem, mentalmente, menos seja. Os de cima que outramente se regalem. Se há para baixo, que, aprendendo, se orientem. Este, aqui, como no que precedeu, como no que há-de seguir, este, aqui, meu único, desdenhoso, indiferente intuito. [...] Reconheço-os, pressinto-os, esses enganos. Alguns desagradáveis. Mas terrível o que emerge da esperança final na restauração de certa zona, abandonada, em fuga, como terra maldita pelos mesmos lábios de Deus. Este acudimento ao espírito de irritantes previsões mais me enfurece. Contra semelhante prólogo. Contra análoga ideia de o apontar sequer. Para fazer pensar a gente em coisas tristes. Em desgraças, que nem pode remediar nem sabe consolar. Assim, decido-me. Não o escrevo."
Sampaio Bruno
Notas do Exílio - 1891-1893
Lello & Irmão Editores, (1986), p.VIII
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