domingo, 22 de janeiro de 2012

Régio e Álvaro

José Régio
"José Régio era, para Álvaro [Ribeiro], não só o poeta católico, superior a Claudel, mas o ponto de referência da cisão entre os leonardinos e sergianos. Não podia esquecer a fuga de Régio para o campo sergiano. Mas tinha de lhe perdoar. Para tanto escreveu essa admirável interpretação psicológica e tipológica A Literatura de José Régio (1969) obra nada atendida pelos literatos, e que alguns poderão considerar como exorbitante do valor literário de Régio. Ilusão: Régio é um grande escritor, aqui e em qualquer parte do mundo. Régio é um admirável pensador de ideias e perscrutador de mistérios humanos e divinos. Álvaro devia-lhe, e não apenas por amizade, uma exege. Que resultou em hermenêutica: ele preencheu, com dados próprios, as eventuais carências filosóficas do pensamento de Régio. A quem colocou no seu lugar, entre os que abandonaram a escola leonardina, criacionista, em favor da escola sergiana, cousista. Parece que Régio entendeu bem como, sob a apologia, lhe era enviada a epístola correctiva.(...) Ao publicar a obra A Literatura de José Régio, Álvaro Ribeiro deu um passo voluntário e comedido para uma aproximação formal e essencial da Filosofia e da Literatura portuguesas. (...) A julgar a literatura regista, Álvaro teria também de julgar a literatura alvarista pois, estamos em crer, as situações espirituais de Álvaro e de Régio são afins, embora existencialmente diversas. Mas houve lugar para a biografia e, onde a houve, também houve lugar para a autobiografia: o percurso espiritual de um filósogo em face de um seu irmão espiritual, de um seu companheiro natural. Régio foi em Literatura o que Álvaro veio a ser em Filosofia: a singularidade situacional, o exílio."

Pinharanda Gomes
em A Escola Portuense
(2005), p.151

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